Distantes menos de 50 metros, mas isoladas do restante da cidade, cerca de 50 famílias da comunidade Alto Rio dos Sinos, em Caraá, no Litoral Norte, aguardam ansiosamente a chegada de helicóptero e bote com ajuda. Os problemas na localidade ocorrem desde a semana passada, quando o ciclone que destruiu o município derrubou a única estrada de acesso de veículos, e a ponte pênsil foi levada pela correnteza.
— O pessoal vê de longe e vem correndo pra ver o que estão trazendo. A minha filha, de oito anos, é a primeira que corre — conta a moradora Cristiane Cardoso.
A forma de operação também chama atenção dos isoladas: sem condições de pouso, o helicóptero iça, por meio de uma corda, o material a ser entregue.
— Fica um policial amarrado, mas com metade do corpo pra fora. Dá até medo, parece que vão cair — diz Cristiane.
Embaixo, moradores colocam a ajuda dentro de caminhonetes e levam os materiais por dentro da comunidade.
Sem comunicação
Sem luz e sem sinal de telefone — o que seria inútil com as baterias descarregadas — os moradores também estão incomunicáveis com o mundo exterior. Lista de necessidades básicas são anotadas em cadernos e repassadas às equipes que levam mantimentos e medicamentos.
— Estão trazendo bastante ajuda, cesta básica, mas o que a gente mais precisava era água nesse momento — diz o calçadista Leandro Garcia dos Reis, 35.
O alívio para os moradores chegou pelo Exército, que entregou fardos com galões de 5 litros em oito viagens de bote. Em uma delas, foi levada também uma equipe composta por médica e técnica de enfermagem.
— Na época da covid a gente fazia esse trabalho de visitar as pessoas, mas agora é uma situação totalmente diferente. As pessoas perderam suas casas, seus medicamentos. O que a gente tenta levar é atendimento digno. Tem muita gente com tosse, que precisa de insulina — relata a médica Tuany Rodrigues, que trabalha há quatro anos no município.
Todos os esforços são concentrados no Clube das Mães, um espaço presidido por Rosane da Silva Garcia, 50. As doações, que não param de chegar, são organizadas e distribuídas a partir dali.
— Anotamos um cesto básico por família e agora vamos anotando as necessidades. Eu fiquei dois dias em pé aqui separando tudo, achei que nem ia conseguir caminhar hoje, mas tô aqui firme, porque as pessoas precisam de mim — diz Rosane.
Em outros pontos, como na comunidade Pedra Branca, as necessidades só podem ser atendidas com ajuda de voluntários trilheiros. Desde o fim de semana, grupos se deslocam de várias cidades e se apresentam em frente ao CTG Sentinela do Sinos, onde onde saem levando produtos e até mesmo auxiliando nas buscas.
— Naquela parte ali da comunidade que a gente se empenhou, a gente conseguiu abastecer toda a comunidade da Pedra Branca com cesta básica, colchão, roupas, velas, bastante coisa — relata Ben-Hur Iglesias, que veio de Porto Alegre.
No domingo, bombeiros que chegaram no local de helicóptero não conseguiam se deslocar de casa em casa. A ajuda veio de motociclistas, que deram carona e até auxiliaram a encontrar uma desaparecida.