Enquanto a campanha eleitoral ganha ritmo, obras de grande porte sob responsabilidade ou com recurso do governo federal, parte das quais pode depender do próximo presidente para ser concluída, avançam em passo bem mais lento no Rio Grande do Sul.
A maior parte das intervenções é de melhorias viárias: as duplicações da BR-116 e da BR-290 e a conclusão das alças de acesso da nova ponte do Guaíba, que aguarda definição sobre uma eventual concessão à iniciativa privada para ser entregue.
A principal novidade é o início da implantação do parque eólico de Coxilha Negra, na Fronteira Oeste, sob responsabilidade da CGT Eletrosul, subsidiária da Eletrobras. Não se trata exatamente de uma obra federal porque o recente processo de capitalização deixou a União apenas como acionista da Eletrobras, sem controle da companhia – mas, por esse mesmo motivo, a empresa ainda conta com dinheiro público.
A lentidão não é de agora. O projeto para ampliar a capacidade da BR-116, por exemplo, data do início dos anos 2000. As obras começaram há uma década, e a previsão inicial era de que estivessem concluídas em 2014 para facilitar o acesso à Metade Sul e a pontos estratégicos, como o porto de Rio Grande.
Em vez disso, os trabalhos seguem em andamento. Segundo o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), a duplicação do caminho entre Guaíba e Pelotas até o momento contempla 136,5 dos 211,2 quilômetros previstos – o equivalente a dois terços. Prefeitos dos municípios ao longo da rodovia lamentam a dificuldade em acelerar a construção da nova pista.
— Obviamente, o ritmo não é o que desejamos. Temos um gargalo importante, que é a ponte sobre o Rio Camaquã. Sabemos que sempre é mais complicado em período eleitoral, mas esperamos conseguir mais recursos nesse próximo orçamento — afirma o presidente da Associação dos Municípios da Zona Sul e prefeito de Cerrito, Douglas Silveira.
Silveira afirma que as prefeituras da região estão se mobilizando para, depois das eleições, pressionar os deputados federais gaúchos a destinar recursos de emendas de bancada para destravar o trabalho na BR-116.
Na BR-290, as intervenções iniciadas no final de 2014 são ainda mais limitadas. O Dnit informa que foram liberados três quilômetros de duplicação e um viaduto no acesso a Charqueadas, e segue em curso a implantação da travessia urbana de Pantano Grande em um trecho de 1,5 quilômetro de um total de 115 quilômetros que deverão ser ampliados até Eldorado do Sul.
Prefeito de Uruguaiana e presidente da Associação de Municípios da Fronteira Oeste, Ronnie Mello afirma que contava com a aprovação do investimento de quase R$ 500 milhões do governo estadual para impulsionar o trabalho nas BRs 290 e 116. Porém, a polêmica liberação da verba não passou na Assembleia Legislativa.
— Fica o sentimento de decepção com a decisão, que manteve sob responsabilidade total da União a reforma de uma importante via de acesso aos municípios da Fronteira Oeste. Como a malha federal é imensa, resta esperar pela atenção do governo em investir recursos suficientes para que tenhamos melhorias em um importante corredor do Mercosul — analisa Mello.
Já a nova ponte do Guaíba, cuja estrutura principal foi inaugurada em 2020, emperrou na construção de quatro alças de acesso. Conforme informou o colunista de GZH Jocimar Farina, a interrupção dos trabalhos no local adiou a entrega dessas estruturas complementares para o período de 2026 a 2027.
A melhor notícia recente para os gaúchos foi a liberação da Agência Nacional de Energia Elétrica para a instalação do parque eólico Coxilha Negra, em Livramento. Conforme a assessoria de comunicação da CGT Eletrosul, foram assinados os contratos para construção da infraestrutura do projeto (acessos, fundações dos aerogeradores, entre outras intervenções), e se iniciou a mobilização das empresas no local. A assessoria ressalta que as decisões da empresa passam pelo conselho, e não dependem de decisão política do governo.
A situação das obras
Duplicação da BR-116
Segundo o Dnit, as obras entre Guaíba e Pelotas seguem em andamento. Até agora, foram duplicados 136,5 quilômetros dos 211,2 quilômetros previstos, o equivalente a 65%. Os trabalhos estão focados atualmente nos lotes 1 e 2, de responsabilidade do Exército, no lote 5 (Camaquã-Cristal), que tem 10 quilômetros de pistas prontas e estão recebendo a primeira camada de asfalto, e no lote 7, onde uma empresa trabalha na execução do acesso ao município de São Lourenço do Sul.
Duplicação da BR-290
Por enquanto, foram liberados três quilômetros de pistas duplicadas e o viaduto de acesso ao município de Charqueadas. Segundo o Dnit, essa liberação melhorou a fluidez e a segurança no trânsito daquele local. Conforme nota do órgão, "seguem em andamento os trabalhos de implantação da travessia urbana de Pantano Grande, priorizando trecho de 1,5 quilômetro do viaduto de acesso à cidade, que já foi liberado parcialmente aos usuários”. A maior parte dos 115 quilômetros a serem duplicados entre Pantano e Eldorado segue sem obras.
Nova ponte do Guaíba
A estrutura principal foi inaugurada em 2020, mas o complexo viário segue inacabado. A construção de quatro alças de acesso foi interrompida, e o prazo de conclusão foi adiado para o período entre 2026 e 2027. Conforme nota da assessoria de comunicação, “o Dnit aguarda definições do Ministério da Infraestrutura sobre possível concessão”. Nesse caso, a conclusão das obras poderia ter como contrapartida a instalação de pedágio na rodovia.
Parque eólico de Coxilha Negra
Sob responsabilidade da CGT Eletrosul, em agosto teve início a implantação do novo parque eólico em Santana do Livramento. Com início de operação previsto para o começo de 2024, os 72 geradores deverão fornecer 302 megawatts – o suficiente para atender cerca de 1,5 milhão de pessoas. Está prevista a criação de 1,3 mil empregos diretos ou indiretos durante a execução das obras, a um custo previsto de R$ 2,1 bilhões. A CGT Eletrosul é subsidiária da Eletrobras, que tem a União como um dos acionistas, com pouco mais de 30% das ações.