As forças de segurança no Amazonas afirmaram nessa quarta-feira (8) que ainda não há “indícios fortes de crime” no caso do indigenista Bruno Pereira e do jornalista inglês Dom Phillips. Entretanto, a polícia também afirmou que nenhuma linha investigativa está descartada, inclusive de eventual homicídio. Até o momento, quatro dias após o desaparecimento, um suspeito foi preso e cinco testemunhas foram ouvidas.
— Tudo está sendo investigado. Por enquanto nosso trabalho forte está na busca, temos esperança de encontrá-los com vida. (…) De terem tido algum problema na embarcação. (…) Ainda não temos indícios fortes de crime — disse o Secretário de Segurança Pública do Amazonas, General Mansur durante entrevista coletiva.
A entrevista foi concedida depois de a Justiça Federal no Estado ordenar que o governo reforçasse as equipes de buscas. Segundo Mansur, ainda não foram encontradas provas de que os dois teriam sido sequestrados, mas há materiais suspeitos em análise.
Na ocasião, também foi anunciado um gabinete integrado com a participação de Exército, Marinha, Polícia Militar, Polícia Civil e Corpo de Bombeiros. O objetivo é a equipe coordenar, de Manaus, os trabalhos no Vale do Javari. De acordo com o superintendente regional da Polícia Federal no Amazonas, Eduardo Fontes, as buscas englobam tanta uma frente ostensiva como a de inteligência.
— Também vamos apurar eventual homicídio caso tenha ocorrido, nós não descartamos nenhuma linha investigativa — declarou, após ressaltar que, até o momento, as forças policiais falam em desaparecimento.
Fontes disse ainda que há um mês a instituição iniciou uma investigação sobre as ameaças sofridas pelo indigenista Bruno Pereira. Durante a entrevista, as autoridades ainda destacaram a complexidade dos trabalhos na área em razão de questões geográficas — cheia de rios, isolamento e área remota. Fontes também classificou a região como "bastante perigosa" por conta de tráfico de drogas transnacional, na faixa de fronteira com Peru e Colômbia, e também do garimpo ilegal, da ocorrência de exploração ilegal de madeira e de pesca ilegal.
— A gente espera que no curto prazo tenha notícias sobre o que aconteceu e que os dois tripulantes estejam com vida — completou o delegado da Polícia Civil do Amazonas, Alessandro Albino.
O grupo vai se reunir diariamente às 15h, na Superintendência da Polícia Federal em Manaus (AM), e apresentar um balanço dos trabalhos às 16h.
Investigação
O principal suspeito de envolvimento no desaparecimento, Amarildo da Costa, conhecido pelo apelido de “Pelado”, foi identificado pela Polícia Civil do Amazonas na terça-feira (7). O pescador foi preso em flagrante na comunidade de São Rafael, a distante 30 km de Atalaia do Norte (AM), por posse de munição de uso restrito.
Testemunhas disseram que o viram passar em uma lancha em grande velocidade na mesma direção que Phillips e Pereira, depois que eles foram vistos pela última vez. Mas a polícia diz que o homem foi preso porque portava munições de calibre ilegal e drogas.
O tipo de munição encontrada na ocasião da prisão do pescador sugere, inclusive, uma ligação com o crime organizado estrangeiro. Segundo fontes com acesso às investigações, a munição que justificou a prisão em flagrante do homem identificado como “Pelado” era de calibre 762, usada em fuzis, e tinha origem peruana.
Em entrevista à rádio Eldorado, o procurador jurídico da União dos Povos Indígenas do Vale do Javari (Univaja), Eliesio Marubo disse que há “uma vasta quantidade de provas” contra o detido, que teria relação com pescadores e caçadores da região.
— Estamos fazendo as oitivas para ver se ele tem ligação com o que aconteceu, mas, por enquanto, não temos nada. — disse Carlos Mansur, secretário de Segurança do Amazonas —Já temos material apreendido com suspeita de ter ligação com o fato, mas ainda é tudo uma suspeita.
Segundo as autoridades a operação inclui cerca de 250 homens, entre policiais, militares e bombeiros, além de duas aeronaves, drones, 16 barcos e outros veículos, segundo a polícia.