Após o encerramento do mais longo tribunal do júri já realizado no Rio Grande do Sul, a promotora Lúcia Callegari foi ao encontro dos pais de vítimas da Kiss e manifestou sentimento de "justiça feita", mas adiantou que irá apresentar recurso para tentar elevar as penas. Os quatro réus foram sentenciados com sanções que variam entre 18 anos e 22 anos e seis meses de reclusão. As punições máximas possíveis eram de 30 anos.
— Eu saio satisfeita, foram todos condenados. Mas eu vou recorrer da pena porque faço isso normalmente. Se o juiz me dá 29 anos (de pena ao réu), eu posso ir até os 30 anos no recurso — argumentou Lúcia.
Nas suas primeiras considerações após a sentença, avaliou que o resultado do júri da Kiss é um recado da comunidade, representada pelo sete jurados, no sentido de que uma tragédia como a de Santa Maria não é tolerável.
— O júri se trata do que a sociedade quer para o dia de amanhã. A gente não reescreve o passado, mas a gente faz o futuro. Estamos fazendo o futuro aqui — afirmou Lúcia.
Com mais de mil júris no currículo, ela reconheceu que não estava em condições de acompanhar o voto dos jurados na sala secreta. Acabou repassando ao seu colega de bancada, promotor David Medina da Silva, a tensa atribuição de presenciar o ato das decisões dos jurados.
— Foi um dia muito difícil. É muito tenso entrar na sala de votação. Eu iria, mas acabei dizendo ao David: "Vais tu, eu quero ficar com as famílias". Era meu momento de buscar nos familiares a minha força porque eu estava muito nervosa — disse a experiente promotora, dando face a tudo o que estava em jogo no júri da Kiss.
Lúcia criticou a obtenção de um habeas corpus pela defesa de Spohr e disse acreditar que o pedido foi distribuído quando o juiz Faccini estava calculando as penas dos réus. A promotora afirmou que irá conversar com a Procuradoria de Recursos do Ministério Público para discutir a estratégia para o julgamento de mérito dessa decisão que livrou os condenados da prisão imediata, o que acontecerá na 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do RS.
O resultado não deixou de ser um alívio para o próprio MP, atacado frontalmente pelas defesas dos réus durante o júri por ter assinado um termo de ajustamento de conduta (TAC) com a Kiss para a realização de obras de isolamento acústico pouco mais de um ano antes do sinistro.
O promotor Medina considerou as penas adequadas e declarou-se satisfeito. Emocionado, abraçou familiares de vítimas e não conteve as lágrimas. Ele avalia que há fundamentação legal para executar as penas dos réus.
— Esse dispositivo é constitucional. Esperamos que, no julgamento do habeas corpus, essa decisão possa ser revertida, mantendo o decreto de prisão. O doutor Orlando (Faccini Neto) se baseia na lei. O Código de Processo Penal prevê que penas maiores do que 15 anos ensejam imediata execução. É isso que esperamos que aconteça — afirmou o promotor.
Poucos advogados de defesa se manifestaram após o resultado. Jean Severo, da bancada de Bonilha, rapidamente disse que respeitava o resultado, mas que iria recorrer. Na mesma linha, o advogado Mario Cipriani, da defesa de Mauro Hoffmann, afirmou que irá recorrer após ter acesso ao inteiro teor da sentença.