
O Rio Grande do Sul vai ser o destino da maior quantidade de venezuelanos transferida até agora de Roraima para outros Estados brasileiros. Na sexta etapa do chamado programa de interiorização, 646 imigrantes desembarcarão em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) na base de Canoas em quatro levas, a partir do dia 6 de setembro. De lá, 425 imigrantes serão levados para três prédios localizados no próprio município de Canoas e outros 221 ficarão abrigados em dois alojamentos de Esteio.
A transferência foi oficializada nesta sexta-feira (24), com a assinatura de um acordo de cooperação entre o governo federal, a Organização das Nações Unidas (ONU) e as duas prefeituras envolvidas. A parceria prevê o repasse de pouco mais de R$ 1,5 milhão, pelo Ministério do Desenvolvimento Social (MDS), aos dois municípios – R$ R$ 530,4 mil para Esteio e R$ 1 milhão a Canoas. O montante se refere à soma dos R$ 400 mensais por venezuelano transferido, previstos no programa de interiorização para que as prefeituras contratem profissionais e serviços necessários para auxiliá-los, pelo período de seis meses. Esse é o prazo máximo previsto para que eles fiquem nos abrigos públicos gaúchos, segundo o titular do MDS, Alberto Beltrame:
– Pela nossa experiência nos outros Estados, os venezuelanos nem ficam todo esse tempo e saem depois de dois, três meses, na medida em que conseguem emprego e recomeçam suas vidas.
Segundo Beltrame, eles serão incentivados a se mudarem para outros apartamentos e até cidades para liberarem as vagas nos alojamentos para que outros venezuelanos possam vir.
Junto com o ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, e a representante no Brasil do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur), agência da ONU, Isabel Marques, o ministro do Desenvolvimento esteve ontem no Estado para finalizar os ajustes sobre a interiorização, que será concluída até o dia 18 de setembro.
– Na Semana Farroupilha, o Rio Grande do Sul vai dar mais uma importante demonstração de avanço cultural. Tenho certeza de que logo eles estarão tomando chimarrão e frequentando CTGs conosco – afirmou Beltrame, que é gaúcho.
Principal entrave para que Porto Alegre recebesse venezuelanos, o espaço para alojamento foi justamente o que determinou que Esteio e Canoas, na Região Metropolitana, fossem o destino dos imigrantes. Isso porque os cinco prédios onde os imigrantes ficarão alojados pertencem ao mesmo empresário, que ofereceu ao governo federal seus imóveis. O aluguel dos cerca de 160 apartamentos está sendo negociado com o proprietário, que está no Exterior, pelo Acnur, que será o responsável pelo pagamento da hospedagem através de doações internacionais para a questão migratória da Venezuela.
Os alojamentos têm perfis diferentes. O prédio visitado pelas autoridades nesta sexta-feira, em Esteio, que até pouco tempo era alugado por empresas como Celulose Riograndense e Refinaria Alberto Pasqualini (Refap) para operários, tem quartos equipados com até cinco camas, além de condicionadores de ar e televisão, e as peças incluem banheiro.
As refeições serão feitas num espaço que será adaptado como cozinha coletiva.
No apart-hotel visitado em Canoas, os quartos têm a mesma infraestrutura, mas são menores, comportando, no máximo, casais com bebês. No entanto, contém pia, fogão e frigobar. Todos os prédios deverão passar por reformas, promovidas pelo dono, para corrigir problemas e adaptá-los às necessidades dos novos moradores. Além do aluguel, o Acnur, devido à experiência mundial com refugiados, será responsável por gerir os abrigos e deverá proporcionar também uma bolsa mensal para que as famílias resolvam as dificuldades nos primeiros meses.
— Já há empresas que manifestaram interesse em oferecer empregos. Isso é muito legal, mostra que existe uma sensibilidade para ajudar esse povo que não quis sair de seu país, mas foi forçado — afirmou Isabel Marques.

Articulação nos dois municípios já começou
Foram menos de 24 horas entre o convite para a interiorização e o anúncio desta sexta-feira de que os venezuelanos começariam a chegar em Canoas, segundo o prefeito Luiz Carlos Busato (PTB). Embora não seja obrigada a desembolsar recursos próprios, a prefeitura precisa aceitar participar do programa, pois é responsável pela contratação de profissionais e fornece serviços públicos, como saúde e escola, aos novos moradores.
Ainda arquitetando como será a articulação na cidade, Busato contou que uma das possibilidades cogitadas é a de acionar participantes e contratar mais mão de obra pelo Projeto Gerações, um estágio remunerado criado especialmente para pessoas da terceira idade, para ministrarem oficinas aos imigrantes.
— Com isso, estaremos proporcionando oportunidades aos idosos canoenses e ainda ajudando aos venezuelanos – pontua Busato.
Em Esteio, o prefeito Leonardo Pascoal (PP) também disse que o contato do Ministério do Desenvolvimento Social surgiu há dois dias, mas conta que aceitou imediatamente, pelo papel humanitário da iniciativa. Pensando em como cumprir essa demanda, o gestor já sabe como solucionar uma das principais dificuldades imediatas dos venezuelanos: o idioma.
— Temos um programa de voluntariado, o Conta Comigo, que já tem professores de português, que dão aulas a idosos analfabetos. Já falamos com eles e se prontificaram a ensinar os imigrantes — explicou Pascoal.
Os possíveis problemas e o restante da burocracia serão discutidos em grupos de trabalho criados nos dois municípios gaúchos.
O processo de interiorização no país
Até agora, o governo federal fez cinco etapas de transferência de venezuelanos para o interior do país. A primeira ocorreu em abril e a última, em julho deste ano. Até outubro, a meta é interiorizar mais 2 mil, incluindo a leva para o RS. Os destinos ainda estão em negociação.
- Cuiabá: 119
- Manaus: 165
- São Paulo: 287
- Pernambuco: 69
- Paraíba: 44
- Rio de Janeiro: 86
- Brasília: 50
- Total: 820