Com a duplicação total da Rodovia Régis Bittencourt, trecho da BR-116 que liga os Estados de Paraná e São Paulo, ficou mais seguro esticar até o Rio de Janeiro a habitual viagem de carro, verão após verão, dos gaúchos a Santa Catarina. O percurso, obviamente, é mais longo e cansativo, mas, para quem gosta de pegar a estrada, a paisagem que se descortina revela retas gigantescas e curvas sinuosas, em meio a florestas e descampados.
Dos 30 quilômetros da Serra do Cafezal, entre Juquitiba e Miracatu, em São Paulo, 10 ainda eram de pista simples e ganharam faixas adicionais em 19 de dezembro, garantindo aos motoristas uma viagem inteira em rodovias com pelo menos duas faixas em cada sentido desde Porto Alegre.
A obra em toda a extensão serrana — com quatro túneis e 39 pontes que cruzam a Mata Atlântica — custou R$ 1,3 bilhão, verba financiada pelo BNDES para a iniciativa privada.
Pedágios, pontos de parada, restaurantes, postos da PRF e o que ver no caminho: clique aqui para acessar mapa interativo e conhecer os detalhes do trajeto de 1.570 quilômetros.
Anteriormente apelidada de Rodovia da Morte — em 1993, 77 pessoas morreram em apenas dois acidentes envolvendo ônibus —, a Régis Bittencourt registra circulação diária de 127 mil veículos, sendo 60% caminhões como o rodotrem de Luciano Silveira Fortes, 39 anos. Morador de Montenegro, no Vale do Caí, o caminhoneiro com 25 anos de profissão assegura que a Serra do Cafezal é a pior parte dos 1.570 quilômetros que separam gaúchos e cariocas.
— Alguns trechos passam por partes da antiga rodovia, que são bens ruins, esburacadas. A pista nova é boa — comenta.
Logo depois da capital paulista está a estrada considerada pelo motorista a melhor de todo o trajeto. Segundo ele, os 400 quilômetros da Via Dutra são os mais bem projetados.
— Há pouco desnível comparado com as outras. A resposta da concessionária que administra a rodovia também é excelente. Quando tem acidente ou alguém precisa de socorro, eles atendem muito rápido — diz Fortes.
Da freeway, em Porto Alegre, até a Via Dutra, em São Paulo, dois problemas se repetem. Imperfeições no asfalto fazem com que veículos pesados, como sua Scania de 30 metros de comprimento, peso bruto de 75 mil quilos quando carregada e com três articulações e nove eixos, trepidem do início ao fim do percurso, aumentando o custo de manutenção. As cabeceiras das pontes equivalem a quebra-molas, tamanho desnivelamento em relação ao asfalto.
— Afrouxa todo o caminhão. São problemas que quem viaja em carro de passeio nem percebe, mas em uma carreta pesada a gente sente tudo. Em estradas pedagiadas, isso não poderia acontecer. Só na freeway pago R$ 95,40 de Porto Alegre a Osório.
Roberto Flores, 58 anos, atesta as considerações e reforça que a estrada até o contorno de Curitiba, em geral, é bem sinalizada, mas reclama da condição do asfalto em alguns pontos da BR-101, tanto no Rio Grande do Sul quanto em Santa Catarina.
— Há pedaços que são recapeados, mas ficam alguns caroços no meio do asfalto. Aplicam remendos malfeitos, desnivelados — diz o caminhoneiro morador de Portão, também no Vale do Caí.
Além de reduzir o risco de acidentes, a duplicação por completo da Serra do Cafezal eliminou um gargalo e abriu caminho para impulsionar o crescimento econômico do país — a Régis Bittencourt é tida como principal eixo logístico entre as regiões Sul e Sudeste, conta o presidente da Arteris, concessionária que administra a rodovia, David Díaz.
— As novas pistas melhoram as condições de trafegabilidade e reduzem o custo Brasil, ampliando assim a produtividade de empresas de setores como serviços, indústria, turismo e agronegócio — explica Díaz.
Presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística no Estado do Rio Grande do Sul (Setcergs), Afrânio Rogério Kieling complementa:
— Essa duplicação traz um benefício imensurável. O motorista pode, agora, manter uma velocidade regular, não fica freando e acelerando o tempo todo, basta olhar o exemplo da duplicação de Florianópolis a Osório. Deixaremos de perder vidas naquela estrada.
Antes da duplicação, uma simples pane em um veículo poderia fazer com que os 30 quilômetros da Serra do Cafezal fossem percorridos em até cinco horas, como já presenciou o motorista de Montenegro — o normal é de aproximadamente 30 minutos para caminhões carregados.
— Ganhamos tempo com a duplicação — comemora Fortes.
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