A condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nesta quarta-feira, na Justiça Federal em Curitiba (PR), acirrou ânimos e ampliou a polarização política nas redes sociais. Em apenas dez minutos, no fim da tarde, pelo menos 60 mil mensagens no Twitter tiveram como tema central a sentença do juiz federal Sergio Moro – a maioria expressando posições antagônicas e, em muitos casos, agressivas.
Coordenador do Laboratório de Estudos sobre Imagem e Cibercultura (Labic) da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Fábio Malini fez um levantamento dos termos mais mencionados entre as 18h e as 18h10min. Os campeões foram "Lula" (56 mil citações), "Sergio Moro" (13,1 mil), "condenado" (15,5 mil citações), "Aécio" (6,33 mil), "prisão" (5,7 mil), "Temer" (5,38 mil), "provas" (4,5 mil) e "Bolsonaro" (4,5 mil).
Na avaliação do pesquisador, as menções a nomes antagônicos indicam o tamanho do radicalismo que ronda os brasileiros, tanto quanto as hashtags (palavras-chave) preferidas naquele momento pelos usuários do Twitter: #LulaInocente e #LulaCondenado, usadas por defensores e críticos de Lula, respectivamente.
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– A gente vive em um país sem centro, e isso faz com que os extremos gritem. O fato envolvendo Lula serviu de combustível para ampliar ainda mais o barulho. A tendência é isso continuar, porque há um vazio em termos de alternativas – avalia Malini.
O radicalismo expresso na internet vem na carona de uma série de outros fatos noticiados recentemente – como o arquivamento do pedido de cassação do senador Aécio Neves (PSDB), a denúncia contra o presidente da República, Michel Temer (PMDB), a libertação do deputado federal Rocha Loures (PMDB), flagrado recebendo uma mala com R$ 500 mil em propina. Os reflexos dos sentimentos extremos preocupam Pablo Ortellado, professor do curso de Gestão de Políticas Públicas na Universidade de São Paulo (USP) e coordenador do projeto Monitor do Debate Político no Meio Digital.
– É uma situação muito ruim de intolerância. Um lado acha que o outro é corrupto e defende a corrupção, sob o pretexto da luta contra a desigualdade social. O outro lado pensa que os antipetistas detestam os pobres e usam o discurso de combate à corrupção para camuflar esse ódio. Com a condenação de Lula, a situação se agravou – diz o especialista.
Conforme Ortellado, 10% dos usuários do Facebook têm comportamento polarizado e, em parte, isso se reflete nas relações sociais – é o caso de amigos e familiares que brigam por diferenças políticas, por exemplo. Mas o problema não é exclusivo do Brasil. Países como Estados Unidos, Argentina, Venezuela e Bolívia experimentam os mesmos sintomas. A diferença é que, aqui, a polêmica em torno do PT dá "coloração local" ao quadro.
– A condenação de Lula é lida por cada um dos lados como a confirmação da sua versão. Os petistas dizem: "Tá vendo? Estamos sendo perseguidos." Os antipetistas dizem: "Tá vendo? Vocês são corruptos." Não importa o que aconteça. Tudo confirma e acentua essas convicções. A gente precisa achar uma saída para despolarizar, mas as perspectivas para 2018 não são nada boas – conclui Ortellado.