A crise instalada no Hospital Beneficente São Carlos há pelo menos quatro anos ganha contornos dramáticos e que colocam em risco a manutenção da única instituição que atende pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em Farroupilha. São muitos fatores responsáveis pela decadência do espaço, que já serviu como referência em saúde na Serra no início da década de 2000. Má administração, empréstimos, falta ou atraso no repasses de verbas governamentais, inadimplência com impostos, entre outros itens, pouco a pouco interferiram na qualidade do atendimento e estrutura do hospital.
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Para se ter ideia do tamanho do problema, as camas onde pacientes repousavam, há pouco mais de um ano, sequer tinham lençóis. Água passou a ser artigo de luxo por lá: o gasto de quase R$ 1 mil mensais em bombonas se tornou cada vez mais pesado, a ponto de passar por redução também. Enquanto segura as contas e organiza o planejamento para tentar salvar a história de um dos hospitais mais importantes da Serra, a nova administração do São Carlos teme que o déficit de quase R$ 700 mil mensais obrigue o hospital a fechar as portas no próximo mês.
– Temos mais de 500 títulos em protesto e devemos para todos os fornecedores. Nós não temos crédito com ninguém, e precisamos pagar tudo à vista. Por isso, eu digo: não dá mais, esse mês houve o estouro, estamos no limite – afirma a nova superintendente do hospital, Janete Toigo.
Janete assumiu a direção do São Carlos em março deste ano. Antes, trabalhava em situação financeira semelhante no Hospital São Francisco de Paula, na cidade de mesmo nome. Foi indicada ao hospital de Farroupilha por um grupo da comunidade que assumiu a gestão após a prefeitura encerrar a intervenção de quase dois anos.
Uma consultoria financeira também contratada por agentes da comunidade diz que o endividamento do hospital saltou de R$ 5 milhões para quase R$ 40 milhões entre 2008 e 2017. O gráfico apresentado pela superintendente em reunião convocada pela Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Farroupilha (Cics), na semana passada, mostra que o período de maior contratação de dívidas ocorreu entre 2015 e 2016, quando, em uma tentativa desesperada de evitar o encerramento de atividades, foram contratados muitos empréstimos.
– O período agora é de renegociação da dívida, com bancos e fornecedores, de redução de despesas internas e de um forte trabalho para que deixe de operar no negativo. O que aconteceu, até agora, é que as despesas nunca haviam sido diminuídas de acordo com a receita. No passado, o grupo gestor já começou a fazer um novo encontro de receita e de gastos – afirma o diretor da consultoria Projeto de Vida, Valderi Zirr.
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O prontuário do Hospital São Carlos
:: Quanto recebe por mês (de repasses): cerca de R$ 1,8 milhão
:: Quanto paga por mês em empréstimos: cerca de R$ 500 mil
:: Qual a despesa total mensal (incluindo empréstimos, folha de pagamento e demais despesas): cerca de R$ 2,5 milhões
:: Déficit acumulado por mês: cerca de R$ 700 mil
:: Dívida acumulada até 2017: cerca de R$ 40 milhões
A estrutura
:: O São Carlos é referência nos atendimentos de alta complexidade em traumato-ortopedia para 34 municípios (mais de 450 mil habitantes) e nos serviços de média complexidade e cirurgias eletivas para 12 cidades (mais de 170 mil pessoas).
:: Tem 106 leitos para internação: 58 pelo SUS e 48 para convênios
:: No pronto-socorro com emergência 24 horas, há 25 poltronas (17 para SUS) para soroterapia, 22 para observação (10 para SUS) e oito para pediatria (quatro para o SUS).
Saúde pública
Hospital São Carlos, de Farroupilha, acumula déficit de R$ 40 milhões
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Raquel Fronza
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