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Uruguaiana é uma cidade acostumada com enchente. Recentemente, vive ao menos duas por ano. O Rio Uruguai costuma subir lentamente e a prefeitura faz um trabalho preventivo de ir avisando as famílias.
– Tchê, tua casa pode ser atingida em breve. Vamos para o abrigo ou tu tens casa de parente?
Assim tem sido o contato dos agentes da força-tarefa coordenada pela Defesa Civil há quase quatro semanas. Mas, dessa vez, o rio que contorna o maior município da Fronteira Oeste surpreendeu e subiu mais do que o esperado: chegou a 11m62cm nesta terça-feira (6) e segue subindo dois centímetros por hora.
Nesse ritmo, pode alcançar nesta quarta (7) o nível histórico de 2014, quando Uruguaiana viveu a segunda maior enchente, com a marca de 11m82cm. Com isso, volta à tona um projeto antigo no município, que começou quando a cidade vivia a pior cheia da sua história, em 1983: a construção de diques de contenção.
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Em 2014, quando ainda era presidente, Dilma Rousseff fez duas visitas a Uruguaiana e, numa delas, prometeu verba federal para erguer a barreira física de 3,5 quilômetros de extensão com estações de bombeamento, o que reduziria drasticamente o impacto das cheias.
– Seria um sonho – resume o secretário municipal de Planejamento, Carlos Prudêncio.
Ele chama de sonho porque, desde a visita presidencial, a União não deu mais sinais de recursos. A obra, orçada há três anos em R$ 70 milhões, é inviável para os cofres municipais. O projeto chegou a ser reencaminhado para análise do Ministério da Integração, mas os recursos que a pasta tinha foram distribuídos para outras unidades, informou a prefeitura. ZH fez contato com o Ministério, mas não obteve retorno até a publicação desta notícia.
Um projeto que cabe no orçamento do município começou a ser formulado nesta terça-feira. A ideia do prefeito Ronnie Mello (PP) é encontrar uma área pública e erguer casas pré-moldadas para as mais de 90 famílias que vivem em áreas irregulares. Segundo o chefe do Executivo, esta é uma alternativa ao Minha Casa Minha Vida, que muitas vezes tem exigências que esses moradores não têm como cumprir, por isso, ganhariam uma moradia para deixar, principalmente, as zonas ribeirinhas.
– Conversamos com as famílias e elas dizem que querem deixar essas aéreas, querem uma nova e não perder, toda vez, o pouco que têm – afirmou o prefeito.
Uruguaiana está com quase 1,8 mil pessoas fora de casa. Parte composta por essa população em moradia irregular. Outra parte tem casas particulares e, para que deixasse de ser atingida pelas enchentes, teria que contar com uma iniciativa pública, como o projeto dos diques.
Existe a possibilidade de o ministro da Integração, Helder Barbalho, sobrevoar as regiões alagadas na sexta-feira (9) – a assessoria do ministro disse que a agenda deve ser fechada amanhã. Se vier, certamente, será pressionado por investimentos.