A Polícia Civil do Rio Grande do Sul já formalizou ao Paraguai o pedido para que um dos mais conhecidos bandidos gaúchos, Jackson Peixoto Rodrigues, o Nego Jackson, seja expulso daquele país. Ele foi preso quinta-feira em Pedro Juan Caballero (cidade paraguaia separada apenas por uma avenida da sul-mato-grossense Ponta Porã), por suspeita de envolvimento num duplo homicídio em território paraguaio.
– Como Nego Jackson tem nove mandados de prisão por homicídio em Porto Alegre, temos intenção que ele seja expulso e enviado ao Rio Grande do Sul. Enviamos cópia dos mandados à Polícia Nacional paraguaia e um pedido formal nesse sentido – explica o delegado Arthur Raldi, da Delegacia de Capturas do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) da Polícia Civil gaúcha.
Jackson foi preso junto com outros três gaúchos, numa casa com piscina. Contra ele pesam 11 investigações no Rio Grande do Sul, nove delas por homicídio, mas os paraguaios não sabiam disso quando o prenderam. É que ele usava o nome falso de Gabriel Ferreira dos Santos, sem antecedentes. Os quatro usavam identidade falsa, mas escondiam armas e dinheiro na casa, o que possibilitou prisão em flagrante. Eles foram levados para um presídio em Assunção.
Duas pistas levaram à prisão
Jackson foi capturado numa operação policial por suspeita de envolvimento no assassinato de um casal em Assunção (capital paraguaia). Paulo Jacques e Milena Soares foram mortos dia 2 deste mês. Jacques, que residia em Pedro Juan Caballero, é apontado pelas autoridades paraguaias como integrante do círculo de poder do maior traficante do Paraguai, Jarvis Pavão, que é aliado do PCC (Primeiro Comando da Capital, maior facção criminosa do Brasil, oriunda de São Paulo).
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Os policiais e procuradores de Justiça paraguaios chegaram aos bandidos por meio de duas pistas. A primeira foi o rastreamento de telefones que fizeram chamadas na rua onde aconteceu o duplo homicídio, em Assunção. Os celulares que tinham prefixo de Pedro Juan Caballero foram identificados e o cruzamento de ligações permitiu localizar a residência onde os telefones eram usados, na fronteira. Era a casa onde Jackson e os outros três bandidos estavam abrigados.
A outra pista é uma caminhonete Hilux vermelha, que deu cobertura aos autores do atentado (os matadores estavam numa C-10). Na residência foi encontrada uma Hilux semelhante à visualizada no lugar do crime, o que também ajudou a justificar a prisão do quarteto como suspeito do homicídio do casal.
Num entrosamento que já se repete há quase uma década, a Polícia Nacional paraguaia enviou às polícias brasileira fotos dos brasileiros presos. Por meio delas, Jackson foi reconhecido pelo delegado Raldi, embora o foragido esteja 20 quilos mais gordo que na última foto dele em liberdade.
É provável que Jackson fique preso em Assunção, já que os indícios da participação dele na morte de Paulo Jacques e sua namorada são fortes. Nesse caso, para conseguir que ele volte ao Brasil para cumprir pena, os brasileiros teriam de requisitar sua extradição, algo demorado.
Jacques trabalhava para Jarvis Pavão, que está preso em Assunção e se transformou no pivô da guerra de facções que sacode o submundo paraguaio e, por consequência, toda a fronteira com o Brasil. A mando do PCC, Pavão teria contratado 30 pistoleiros para executarem seu rival no tráfico, o comerciante brasileiro Jorge Rafaat, que morava em Pedro Juan Caballero. Desde então, mais de 30 pessoas foram mortas, em represálias.
Ainda não se sabe qual o papel de Nego Jackson nisso tudo. A hipótese mais provável é que ele, como importador de drogas para sua quadrilha de Porto Alegre, tenha concordado em se aliar ao frentão anti-PCC no Paraguai.