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A presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica) sustenta que os problemas responsáveis por travar o funcionamento de quatro parques no Rio Grande do Sul contrariam uma tendência geral de crescimento acelerado desse setor no Brasil, em geral, e no Estado, em particular. Confira trechos da entrevista concedida por telefone desde São Paulo.
Temos quatro parques eólicos em Livramento que deixaram de funcionar em meio a discussões judiciais. Essa situação é pontual ou revela problemas mais abrangentes do setor, como insegurança jurídica ou dificuldades financeiras?
Essa situação é à parte do que é a indústria de energia eólica no Brasil. É muito nova, estamos falando de cinco, seis anos de crescimento dessa indústria, que tem apresentado resultados muito virtuosos nos últimos tempos e uma perspectiva de crescimento de médio e longo prazo muito grande. Esse é aquele acontecimento bem à parte. A Impsa (empresa que forneceu os equipamentos e respondia pela operação dos aerogeradores) entrou em dificuldade, e essa dificuldade não se deve só ao braço de energia da Impsa, que pertence a uma empresa tradicionalíssima na Argentina e vem passando já por problemas há muitos anos. Nos últimos anos, (a crise) culminou na parte de energia da Impsa. Mas é pontual. O que ocorre na indústria de energia eólica é completamente diferente.
Qual o cenário neste momento?
No ano passado, a indústria de energia eólica cresceu 46% no Brasil. Foi a que mais cresceu no Brasil e no mundo. O retrato no país é muito positivo de geração de emprego e investimento. O Brasil é o segundo país mais atrativo do globo em fontes renováveis, o primeiro é a China. O Brasil foi o quarto país que mais instalou energia eólica no ano passado. Investimos R$ 20 bilhões em 2015, geramos 40 mil postos de trabalho. Estamos crescendo nessa média, e instalando, em termos de potência instalada, cerca de 2,5 gigawatts por ano. A situação (dos parques em Livramento) não reflete nem o que ocorre no Rio Grande do Sul.
O Estado é o terceiro em produção de energia eólica no país, não?
É o terceiro em capacidade instalada. É um Estado muito atrativo em termos de investimentos, tem um potencial eólico muito grande, da ordem de 150 gigawatts para exploração de potencial eólico nessas regiões de Santana do Livramento, de Uruguaiana, tem vários focos de vento e potencial eólico (o Atlas Eólico do Rio Grande do Sul de 2014 indica potencial de 103 gigawatts em terra e 34 sobre lagoas, a cem metros de altura).
O que representam 150 gigawatts? De que grandeza estamos falando?
Olha, o Brasil tem hoje 160 gigawatts somando todas as fontes de energia. O Rio Grande do Sul, então, tem quase um Brasil de potência, de possibilidade de potência instalada só com a energia eólica. Temos potencial no Litoral, na Fronteira, para todo lado.
Mas, em relação aos parques de Livramento, uma das razões para terem deixado de funcionar é que a Impsa forneceu os equipamentos e era a única com capacidade para operá-los. Esse é o padrão no mercado brasileiro? Não se fica refém do fornecedor?
Esse é o modelo e funciona muito bem no mundo inteiro. O que houve aí foi uma situação atípica.
Nesse caso, a empresa Eólicas do Sul, responsável pelos parques afetados, queixou-se de que a Aneel não aceitou reduzir as obrigações da empresa sob alegação de ocorrências imprevistas. São frequentes esses tipos de queixas?
Não temos conhecimento dessa situação específica. Mas o aparato regulatório do setor elétrico brasileiro é muito estável. Não há insegurança por parte do investidor. Se a Aneel tomou uma decisão X ou Y, está muito fundamentada na lei e nos contratos. As empresas têm de cumprir os contratos. Então, não sei qual a decisão específica, mas posso assegurar que a regulação do setor elétrico brasileiro, do ponto de vista do investidor, é muito segura.
Qual o cenário para os próximos investimentos no Rio Grande do Sul?
Os futuros investimentos dependem dos leilões, e o próximo vai ocorrer em outubro. Estive, semana passada, reunida com o governador do Estado e alguns investidores, e há um interesse muito grande das empresas em participar do próximo leilão. Inclusive, entraram com pedidos de licença prévia de projetos no Estado para participar do leilão. Hoje, o RS já tem cerca de 490 megawatts e mais de 200 aerogeradores para entrar em operação até 2019 como resultado de leilões recentes. São investimentos já em andamento.