A resistência do PMDB na entrega de cargos postergou a reforma ministerial concebida para salvar a presidente Dilma Rousseff. Com expectativa de votar na Câmara o impeachment na segunda quinzena de abril, o governo quer anunciar na próxima semana mudanças na Esplanada, a fim de garantir apoio de, ao menos, partes das bancadas de PP, PR, PSD, PRB e PTN.
Apesar de ser da oposição a missão de angariar os votos de 342 dos 513 deputados para levar o impeachment ao Senado, o Planalto tem a fidelidade integral apenas de PT, PC do B e PSOL, que somam 74 parlamentares – PDT e PTB poderiam trazer mais 20, faltando ainda 78 para barrar o afastamento.
A estratégia é buscar votos "pingados", inclusive no PMDB, que anunciou saída do governo. Dos seis ministros do partido, Mauro Lopes (Aviação Civil) e Eduardo Braga (Minas e Energia) devem sair. Celso Pansera (Ciência e Tecnologia), Marcelo Castro (Saúde), Helder Barbalho (Portos) e Kátia Abreu (Agricultura) podem ficar.
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A demora atrasa as negociações, costuradas enquanto o Planalto reforça defesa em ações com movimentos sociais. Na sexta-feira, na assinatura de atos de reforma agrária e comunidades quilombolas, Dilma voltou a dizer que a democracia está ameaçada.
Antes dos discursos começarem, representantes de entidades de sem-terra e quilombolas entoaram palavras de ordem, como "não vai ter golpe". Os gritos duraram mais de cinco minutos e obrigaram o mestre de cerimônias a pedir atenção para o início da cerimônia.
A mobilização auxilia na tentativa de convencer parlamentares de que o governo sobreviverá, operação baseada na oferta de cargos. Quarta maior bancada da Câmara, o PP pode manter Integração Nacional e ganhar Saúde e Caixa Econômica Federal. Bastaria garantir o voto contrário ao impeachment de 20 dos seus 49 parlamentares. A Saúde ficaria com Ricardo Barros (PR) e a Integração com Cacá Leão (BA), filho de João Leão, vice-governador da Bahia em aliança com PT. Atual titular da Integração, Gilberto Occhi seria deslocado para a Caixa.
– Se o partido aceitar, ele vai se apequenar – critica o deputado Jerônimo Goergen (PP-RS).
À frente das Cidades, o PSD liberou a bancada, mas acena ao Planalto a chance de entregar 15 a 20 votos dos seus 35 deputados.
A legenda tem interesse no retorno de Kátia Abreu. Outra opção seria herdar Ciência a Tecnologia, que seria repassada a Afif Domingos. Kátia também foi procurada pelo PR, titular dos Transportes. Com 40 deputados, a sigla mira Portos ou Minas e Energia.
Comandados por interinos, Esporte e Turismo servem de curinga. O Turismo seria oferecido ao PTN. O PRB pode voltar ao Esporte caso garanta dois terços dos seus 22 votos na Câmara.
Ministérios em jogo
Saúde – Marcelo Castro (PMDB)
Orçamento: R$ 87,9 bilhões
Ciência e Tecnologia – Celso Pansera (PMDB)
Orçamento: R$ 3,2 bilhões
Integração Nacional – Gilberto Occhi (PP)
Orçamento: R$ 2,4 bilhões
Agricultura – Kátia Abreu (PMDB)
Orçamento: R$ 1,4 bilhão
Minas e Energia – Eduardo Braga (PMDB)
Orçamento: R$ 1,3 bilhão
Aviação Civil – Mauro Lopes (PMDB)
Orçamento: R$ 1,2 bilhão
Esporte – Ricardo Leyser (interino)
Orçamento: R$ 982 milhões
Portos – Helder Barbalho (PMDB)
Orçamento: R$ 485 milhões
Turismo – Alberto Alves (interino)
Orçamento: R$ 229 milhões
Partidos cortejados
PP
Deputados: 49
Já tem: Integração Nacional
Pode levar: Saúde ou Agricultura
PR
Deputados: 40
Já tem: Transportes
Pode levar: Minas e Energia ou Portos
PSD
Deputados: 35
Já tem: Cidades
Pode levar: Agricultura ou Ciência e Tecnologia
PRB
Deputados: 22
Pode levar: Esporte ou Turismo
PTN
Deputados: 13
Pode levar: Turismo