Preocupados com o vazamento de petróleo no litoral norte do Rio Grande do Sul, pesquisadores do Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (Ceclimar), em Imbé, monitoram a costa desde a manhã desta quinta-feira. Um biólogo percorreu a orla de Imbé a Torres e não identificou problemas.
Assim que soube do acidente, Ignacio Benites Moreno, que atua no órgão e é professor do Departamento de Zoologia da UFRGS, correu até a barra do Rio Tramandaí, na divisa com Imbé, para ver de perto a situação dos botos.
Os animais, que são conhecidos e têm até nomes (entre eles Geraldona, Rubinha e Chiquinho), estavam pescando normalmente no local. Eles são objetos de pesquisa de Moreno há anos. O especialista permaneceu no local a manhã inteira e, com alívio, constatou a inexistência de danos visíveis.
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– Aparentemente, não houve maior impacto. Me parece que um ano de plástico descartado no mar é pior do que esse vazamento para os vertebrados marinhos, como os botos, as baleias e as tartarugas. Ainda assim, outras espécies da fauna marinha estão sendo impactadas, e é cedo para precisar a dimensão do problema. Temos um biólogo percorrendo o litoral e vamos seguir monitorando. Também vamos buscar mais informações com a Transpetro – afirma Moreno.
Coube ao biólogo Maurício Tavares, do Ceclimar, a tarefa de percorrer a orla de Imbé a Torres ao longo do dia. Ele realiza o trabalho desde 1999.
– A partir de 2012, passamos a fazer isso semanalmente. Dessa vez, pelo que pude ver, está tudo dentro da normalidade, mas vamos continuar cuidando e averiguando. Se aparecer algum animal sujo de óleo, seremos acionados – diz Tavares.
Agapan defende punição dura
Na avaliação do oceanógrafo Luiz Alberto de Souza Pedroso, da UFRGS, há motivos para preocupação, mesmo que a quantidade de óleo derramada tenha sido menor do que a inicialmente cogitada (foram cerca de 2,5 mil litros, segundo a Transpetro) e que a mancha não tenha chegado à costa.
– Um vazamento sempre é grave. A película de petróleo queima e mata quimicamente os animais e vegetais que vivem na superfície dos oceanos, como microalgas e pequenos crustáceos. Isso gera um efeito-dominó, porque algumas dessas espécies servem de alimento para outras – diz Pedroso.
Para Francisco Milanez, membro do Conselho Superior da Associação Gaúcha de Proteção ao Ambiente Natural (Agapan), independentemente da extensão dos danos é preciso identificar e punir os responsáveis.
– Também é fundamental que a multa aplicada seja pesada. Isso não vai pagar os danos, mas é importante para que a empresa reforce a segurança – destaca Milanez.