Uma associação que ajuda a promover encontros entre filhos adotivos e seus pais biológicos está ameaçada de encerrar seu trabalho voluntário por falta de recursos financeiros. Criada em 2007, a partir da experiência do comerciário aposentado José Ricardo Andrade Fischer, 49 anos, que é filho adotivo e procurou por sua mãe biológica por duas décadas, a associação nunca contou com qualquer tipo de apoio.
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Com despesas com telefone, internet, custas de processos judiciais, despesas em cartório e até mesmo viagens, a Associação Filhos Adotivos do Brasil é mantida pela aposentadoria de Ricardo. Até hoje, foram promovidos 480 encontros no país e cinco no Exterior.
– Hoje eu me sinto uma formiguinha. Já pensei várias vezes em parar, mas tenho muita pena. Como filho adotivo, sei o quanto é importante existir um projeto assim. Todo mundo tem o direito de conhecer a sua história – observa Ricardo.
A partir do site www.filhosadotivosdobrasil.com, gente de todo o Brasil e até de outros países manifestou interesse em localizar os pais biológicos. Atualmente, há 900 postagens e mais de 3 mil na fila de espera para investigação e publicação online. Para ter condições de publicar todas as histórias, o site mantido por Ricardo teria de ser reformulado, o que demanda recursos que ele não dispõe. Também seria importante contar com o trabalho de mais uma pessoa para alimentar o site enquanto Ricardo se dedica às pesquisas e investigações dos casos que chegam.
– Já fiz inúmeros projetos e apresentei para as secretarias de Direitos Humanos dos governos do Estado e Federal, mas até hoje nunca consegui qualquer patrocínio. Ou alguém me ajuda, ou vou ter de parar – lamenta o aposentado.
Por dia, o site recebe entre 700 e 800 visitantes. Com a divulgação do trabalho em programas de tevê como Caldeirão do Huck e Programa do Jô, a audiência passou de 1 milhão em alguns meses.
– Várias empresas poderiam apoiar o projeto e divulgar a sua marca. Precisamos de, no mínimo, R$ 2 mil por mês.
De acordo com Ricardo, a associação já contou com mais de 30 pessoas envolvidas como voluntárias. Hoje, conta apenas com o trabalho voluntário de um advogado.
Encontro com a própria história
Ricardo ficou com a mãe biológica até completar um ano, quando ela ganhou outro menino (até hoje Ricardo não encontrou o irmão). Ela tinha 16 anos quando tornou-se mãe. Depois de um ano num orfanato, Ricardo foi adotado. O encontro com a mãe biológica ocorreu em 1994. Por ironia do destino, ela vivia a duas quadras do endereço do aposentado na época.
– Melhorei como pessoa depois que me encontrei com a minha história. Não consigo chamá-la de mãe, mas temos uma grande amizade. Naquela época, era bem mais difícil. Hoje, com a internet, é muito mais rápido. Tem casos que estão comigo desde 2007 e outros que solucionamos em dois dias.
Casos resolvidos
Além de saber sobre suas origens, o filho adotivo pode querer localizar os pais biológicos por questões de saúde. Ricardo conta a história de um menino da Bahia, que procurava pela mãe biológica para saber se tinha irmãos que pudessem doar a medula e salvá-lo de uma leucemia. Com despesas custeadas pelo próprio bolso, Ricardo visitou cidades do Interior baiano, até encontrar a família biológica do menino. No entanto, foi tarde demais.
– Essa questão médica é importante para entendermos doenças de ordem psiquiátrica, por exemplo, que podem ser hereditárias.
Embora a história do menino baiano seja triste, há inúmeras histórias com final feliz. Um exemplo é dos gêmeos Thierry e Thayná de Deus Freitas que, em 2014, aos 16 anos, localizaram a mãe, em São Paulo, com a ajuda da associação. O encontro emocionado entre a mãe e os dois filhos foi exibido no programa Caldeirão do Huck.
Para ajudar
Contatos podem ser feitos por meio do site www.filhosadotivosdobrasil.com, ou pelos telefones 8415-5225 (WhatsApp) e 8015-3464.
Além de voluntários, Ricardo está em busca da doação de um computador, pois o que usa atualmente queimou durante um temporal. As pesquisas que ele faz atualmente são por meio de um tablet.
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Em busca de ajuda
Ong que já promoveu mais de 400 encontros de adotivos com seus pais biológicos pode acabar por falta de recursos financeiros
Associação criada em 2007 é mantida com recursos do próprio bolso do fundador.
Roberta Schuler
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