Temeroso diante da debandada na base, o Palácio do Planalto deflagrou ofensiva para barrar o impeachment na Câmara. A estratégia é baseada no reforço do feirão de cargos e na tentativa de convencer indecisos de que a oposição ainda não obteve os 342 votos necessários para levar ao Senado o processo de afastamento de Dilma Rousseff.
Auxiliares da presidente avaliam que o efeito psicológico será decisivo nos dias que antecedem a votação. Por isso, a preocupação para evitar que o desânimo contamine deputados e a base social, além do esforço para desconstruir a versão da oposição, que comemora ter os votos necessários para dar continuidade ao impeachment.
– A tática do outro lado é dizer que o jogo está resolvido e que quem votar contra ficará mal na fita com Temer. O governo vai mostrar que o jogo não acabou – afirma um aliado da presidente.
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A avaliação do Planalto e da bancada do PT é de que há cerca de 60 indecisos. No momento em que descerem do muro, determinarão o resultado da votação, em movimento que acompanhará o lado vencedor. Nesta quarta-feira, a fim de demonstrar força, o ministro Ricardo Berzoini, da Secretaria de Governo, garantiu contar com, no mínimo, 200 votos. Ele falou após encontro no palácio com parlamentares de PMDB, PR, PSD, PT, PDT, PC do B, PTN, PT do B e PROS:
– Estamos convencidos de que teremos número suficiente para barrar o golpe e construir as situações para ter nova base do governo.
Nos bastidores, deputados aliados admitem que a projeção do governo é inflada. Estimativas mais realistas variam entre 120 e 160 votos, insuficiente para segurar o impeachment. A tarefa de recompor a base é complicada, diante da debandada de PP, PRB, PSD e PMDB, com o risco de o PR dar apoio apenas verbal. Contudo, há a expectativa de buscar 10 votos no PP, 10 no PSD, 15 no PR e 10 no PMDB.
Articulação
Em reunião com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma acertou que ambos vão intensificar as articulações. O líder petista vai para o corpo a corpo, disposto a conversar com deputados de siglas nanicas e dissidentes dos partidos da base que abriram voto a favor do afastamento. Para atrair os parlamentares, ficou acertado que as nomeações de cargos serão aceleradas nas edições de quinta e sexta-feira do Diário Oficial da União.
Outra estratégia do governo é ampliar a exposição de Dilma, ministros e parlamentares em entrevistas, a fim de fixar a ideia de que está em curso no Brasil um "golpe". Também será reforçado o discurso da falta de legitimidade do processo de impeachment conduzido por Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara e réu na Lava-Jato.
– Como constará na história do nosso país, da política, a história desse impeachment, se ele vier a se configurar, tendo Eduardo Cunha como seu líder? – indaga o senador Jorge Viana (PT-AC).