Sem ficar alheia ao recrudescimento da crise política no país desde a sexta-feira passada, quando o ex-presidente Lula foi conduzido coercitivamente para depor e esclarecer diversas suspeitas, a presidente Dilma Rousseff entregou unidades habitacionais do Minha Casa Minha Vida nesta segunda-feira, em Caxias do Sul.
Durante o seu discurso, Dilma atacou a oposição – atribuindo à atuação dos rivais o agravamento da crise econômica –, voltou a defender Lula e criticou a convocação do petista para depoimento.
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– Não é possível que estejamos assistindo a pessoas que jamais se recusaram a depor serem conduzidas sob vara. O presidente Lula, justiça seja feita, nunca se julgou melhor do que ninguém, sempre que foi convidado a depor, foi. Não tem sentido conduzi-lo sob vara se ele jamais se recusou a ir.
A presidente repetiu os ataques feitos na semana passada ao vazamento de informações da Operação Lava-Jato, como o suposto acordo de delação premiada do senador Delcídio Amaral (PT-MS). Dilma disse ainda que há uma tentativa da oposição de antecipar o debate eleitoral de 2018.
– Um governo tem de querer a unidade dos brasileiros. Ele governa para todos, não para uma parte, para um pedaço da população. O governo não pergunta, ao fazer um programa como o Minha Casa Minha Vida, a qual partido a pessoa pertence, no que ela acredita, em qual time futebol torce. A oposição tem absoluto direito de divergir, mas não pode sistematicamente ficar dividindo o país – criticou.
A ida de Dilma à Serra era esperada desde a abertura da Festa da Uva, quando, temendo vaias, a presidente cancelou a participação. Agora, diante de uma plateia formada por integrantes do PT, sindicalistas da região e populares agraciados com moradias, não precisou passar por esse constrangimento.
Acomodados em cadeiras de plástico embaixo de uma estrutura de metal e lona, os contemplados com as casas dividiram espaço com militantes petistas. Em várias oportunidades, os ativistas, alguns, misturados aos populares, iniciavam cânticos direcionados à presidente, como: "não vai ter golpe" e "Dilma, guerreira da pátria brasileira".
Os cantos eram apenas observados pelos moradores que, em compensação, aplaudiram efusivamente a entrega das chaves dos apartamentos.
Os 320 apartamentos entregues pela presidente ficam no bairro São Luiz. Para engrossar a plateia, moradores contemplados em outras etapas do programa foram chamados. A dona de casa Edna da Silva, 42 anos, morava em uma invasão antes de receber as chaves da residência, com dois quartos, sala, cozinha e banheiro.
– Falam do Lula e da Dilma, mas, para mim, o governo deles é maravilhoso – resume.
Já a auxiliar de serviços gerais Fernanda Padilha, 36 anos, que vive em um dos apartamentos do loteamento Campos da Serra com o marido e os quatro filhos, tem várias críticas ao programa. Segundo ela, a moradia não atende mais às necessidades da família e tem localização ruim.
– Os meus guris não conseguem ir direito à escola, porque é longe, precisam acordar muito cedo. Acabam repetindo o ano. Também falta ter uma área de lazer. Já perdi muitas oportunidades de trabalho – queixa-se.
Contemplada nesta segunda-feira, a cozinheira Veridiana Gomes, que vai viver em um apartamento com o marido e cinco filhos, discorda da futura vizinha.
– Estou muito feliz. Puxa, eu ganhei uma casa. As pessoas reclamam de tudo. Não pagam um real e ainda querem escolher. Para mim, está maravilhoso.
Contando as 320 unidades de Caxias do Sul, o governo entregou ontem um total de 2.434 moradias do programa habitacional em cinco municípios.
Ausência de Sartori
O governador José Ivo Sartori não compareceu à cerimônia desta segunda-feira. No seu lugar, enviou o secretário de Obras, Gerson Burmann.
A ausência chamou a atenção no evento, já que foi na cidade que Sartori governou por oito anos e porque o peemedebista esteve em todas as últimas passagens de Dilma pelo Estado.