Milhares de pessoas se despediram neste sábado da carismática líder ambientalista Berta Cáceres, de 45 anos, assassinada na última quinta-feira em La Esperanza, a 200 quilômetros noroeste d capital hondurenha, pedindo justiça.
"Justiça, justiça! Berta vive, a luta segue", gritavam os simpatizantes, procedentes de diferentes regiões do país, presentes no velório da coordenadora do Conselho Cívico das Organizações Populares e Indígenas de Honduras (Copinh), vencedora do Prêmio Goldman 2015 por sua luta em defesa do meio ambiente.
Um irmão de Berta, Gustavo Cáceres, um dos primeiros a reconhecer o cadáver, relatou à AFP que pelo menos dois encapuzados entraram na madrugada de quinta pelos fundos da casa onde ela dormia, e que sua irmã se levantou ao ouvir o barulho e enfrentou os homens até que teve um braço e uma perna fraturados. Depois, foi baleada pelo menos oito vezes.
Um mexicano que estava dormindo em outro quarto, Gustavo Castro Soto, pertencente à organização Amigos da Terra México e de outros grupos, saiu para ver o que estava acontecendo e acabou sendo atingido por um tiro no braço. Além disso, uma bala atingiu de raspão o rosto, mas fingiu estar morto e não recebeu mais tiros.
Berta sempre viveu na casa de sua mãe, mas há dois meses se mudou para outra casa. "Nós agora entendemos que (se mudar) foi uma maneira de proteger a família", disse Gustavo.
As autoridades detiveram o mexicano, o guarda da colônia e um companheiro de Caceres no Copinh, que mais tarde foi liberado, informou a família.
O corpo foi levado ao cemitério acompanhado por cerca de 10.000 pessoas, segundo estimativas de dirigentes trabalhistas, após uma cerimônia religiosa em La Esperanza, cidade onde Berta vivia e foi assassinada, que fica a 200 km de Tegucigalpa.
"Nos comprometemos a seguir com firmeza a causa pela qual Berta Cáceres deu a vida?", perguntou o sacerdote jesuíta Ismael Mareno à multidão presente. Todos responderam "sim".
De acordo com um relatório da Equipe de Reflexão Investigação e Comunicação (ERIC) dos jesuítas, a líder indígena havia sido ameaçada por policiais, militares e paramilitares, desde que em abril 2013 liderou uma série de ocupações de estradas e outros protestos de indígenas contra uma empresa hidrelétrica chinesa.
A empresa retirou o projeto depois que o Banco Mundial retirou o financiamento por causa dos protestos motivados pelo medo dos índios de a empresa destruísse o rio Gualcarque.
Mais recentemente, apareceu outra empresa de milionários hondurenhos -- Development Energy Corporation (DESA) - com outro projeto no mesmo rio e Cáceres retomou a luta com as comunidades.
Diante das ameaças, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) emitiu medidas cautelares, mas ela desistiu da proteção por medo das próprias autoridades.
"Apontamos o estado de Honduras como responsável porque não forneceu a devida proteção a Berta, porque não investigou as ameaças e perseguições contra eles pela polícia, militares e paramilitares", acusou a ERIC no relatório.
Os filhos de Cáceres, Olivia (26), Berta (24), Laura (23) e Salvador (21) pediram em coletiva de imprensa que uma comissão "independente" investigue o crime.
"Este é um crime político e desmentimos que seja passional. Responsabilizamos a empresa Energía y Desarrollo e o projeto (da hidrelétrica) Agua Zarca", acusou Olivia. "Ela sempre denunciou ameaças sistemáticas por parte desta empresa", lembrou.
O assassinato da ambientalista provocou reações de repúdio em Honduras e em nível internacional que culpam o governo por não dar a proteção exigida pela CIDH.
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