
Professor de economia na Universidade de Campinas (Unicamp) e um dos conselheiros informais da presidente Dilma Rousseff, Luiz Gonzaga Belluzzo diz que o envolvimento direto de Lula – levado para depor na manhã desta sexta-feira pela Polícia Federal – na Lava-Jato pode aumentar a pressão para um impeachment da presidente: o mercado não acerta quase nunca, sobretudo o mercado financeiro.
Confira os principais trechos da entrevista:
Qual o impacto da nova fase da Operação Lava-Jato para a economia? O efeito já está dado com a paralisia das empreiteiras que, independente do que fizeram seus controladores, pararam de funcionar e estão sem crédito e sem projetos. Os acordos de leniência não saíram na conformidade que eram necessários. Nos Estados Unidos isso acontece muito mais rápido. Eles prendem o responsável e botam a empresa para funcionar. É preciso ter clareza do papel sistêmico que têm (as empresas). Este procurador (Carlos Fernando dos Santos) Lima não tem noção de nada.
Mas as empreiteiras formavam um cartel de fato, não?
Sim, e é da estrutura desse mercado ser assim. O problema não é ser cartel, mas se comportar de maneira inadequada junto com o Estado. Não estou dizendo que a Lava-Jato seja a responsável exclusiva pela crise. Tem uma parte que vem da política econômica. O choque de tarifa e de juros, claro, tiveram impacto.
O custo da Lava-Jato para a economia já está totalmente absorvido ou a recessão pode piorar com esse novo episódio?
Pode piorar porque vai agravar o conflito político. É o pior momento para o governo? É o pior momento para o Brasil. O governo ficou imobilizado e a economia vai afundando cada vez mais.
Com o ex-presidente Lula supostamente envolvido no esquema de corrupção, é possível para o atual governo reconquistar a confiança dos investidores?
A confiança é um ponto chave. Em um exercício de imaginação, cogitemos que a presidente seja destituída. Com tamanho grau de polarização da sociedade, quem vai substituí-la ? Estamos subestimando essa polarização. E venho alertando isso há tempos: é preciso uma convergência entre as forças políticas do país e isso inclui Fernando Henrique e Lula. Se continuar assim vai ser briga na rua, que já está começando a acontecer. O lado que acha que vai perder vai para a briga, vai para rua.
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É uma ameaça à democracia?
Sim. Em caso de impeachment, será que o novo eleito vai ter condições de governar? É uma situação muito grave. Cada um puxa para o seu lado e o conjunto da obra tem sido desastroso.
Enquanto o ex-presidente Lula prestava depoimento na PF, o dólar caiu e a bolsa disparava, puxada principalmente pela Petrobras. O que esse movimento do mercado sinaliza?
O mercado, como tem expectativas racionais, acha que resolvido o problema do impeachment da presidente Dilma a economia vai melhorar. Como eles achavam que o subprime ia continuar para sempre. O mercado não acerta quase nunca, sobretudo o mercado financeiro.
O ministro Miguel Rossetto emitiu nota afirmando que a condução do ex-presidente Lula foi uma violência. O senhor concorda?
O objetivo final da Operação Lava-Jato sempre foi chegar ao ex-presidente Lula. Ele como símbolo de uma política econômica. É um bloco que sempre se direcionou nessa direção, indiscutivelmente. É só ver os procuradores falando e ver o tipo de classe social a qual pertencem. É justo um juiz receber uma homenagem de uma emissora de televisão? É inconcebível. Meu pai, que foi juiz, jamais aceitaria. Esses caras não são servidores públicos, são servidores da publicidade. Esses vazamentos, por exemplo, que acontecem toda hora. Eles dizem que vão apurar e não apuram nada. As regras básicas do Estado de direito estão sendo violadas todo dia.
As investigações conduzidas pela Polícia Federal que chegaram agora ao ex-presidente Lula mostram independência do governo nas investigações?
A autonomia da Polícia Federal está se tornando uma espécie de soberania. Eles não prestam conta a ninguém. Isso não pode. Em nenhum país civilizado do mundo a polícia faz o que quer. Essa autonomiza da PF está sendo usado politicamente pela oposição, é isso? Isso é o que eu vejo. Agora não é mais preciso militares para implantar uma ditadura. Vocês já tem disponível essa gente aí. Esses caras já estão fazendo esse papel, destroçando o Estado de direito.
Essa nova fase da Lava-Jato volta a colocar o impeachment no centro do debate? Eu não sei se a população consegue diferenciar a figura do ex-presidente Lula e da presidente Dilma. O propósito da operação é duplo: prender o Lula e providenciar a saída de Dilma. Mas isso vai ter consequências ruins. Vai aguçar o conflito social e a massa da insensatez.