Dez dos 12 senadores do PT estiveram reunidos na tarde desta quinta-feira com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em uma casa alugada pelo Instituto Lula, na região do Ipiranga, em São Paulo. O encontro, que começou por volta das 13h30 e terminou às 17h30, ocorreu a portas fechadas. Só não participaram os senadores Paulo Paim (PT-RS) e Walter Pinheiro (PT-BA). Sobre os questionamentos dois quais tem sido alvo, Lula foi enfático na conversa com os senadores:
– Vocês podem ficar tranquilos: podem investigar o que quiserem que não vão encontrar um ato ilícito cometido por mim.
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Conforme relatos, o ex-presidente não falou diretamente sobre a decisão do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) de suspender o depoimento que prestaria ao Ministério Público de São Paulo sobre o caso da suposta ocultação da propriedade de um tríplex no Guarujá. Mas fechou com os senadores uma estratégia para amplificar sua defesa para as apurações: o instituto vai abastecer os senadores com informações sobre as respostas dele, a fim de que possam ser usadas em entrevistas e no plenário da Casa.
Durante a conversa, apesar de ter mostrado indignação quando falou sobre as suspeitas que o envolvem, Lula esteve sorridente e cobrou empenho dos senadores para defender o legado e as realizações do partido. A pedido dele, o líder do PT, Humberto Costa (PE), ficou de marcar para em breve uma rodada de conversas de Lula com as demais bancadas da base aliada no Senado.
– Primeiro, viemos trazer nossa integral solidariedade ao ex-presidente Lula, no momento em que ele tem sido uma vítima de uma injustiça enorme, dizer da nossa absoluta e total confiança na integridade e na lisura do ex-presidente da República e, segundo, para conversarmos um pouco sobre a conjuntura política do nosso país – relatou Costa.
Lula saiu do local sem falar com a imprensa. O presidente do PT, Rui Falcão, e o deputado estadual João Paulo Rillo também não falaram com os jornalistas. Segundo o senador Paulo Rocha (PA), que foi um dos organizadores do encontro, Lula puxou o assunto dos "ataques" que vem sofrendo.
– Ele disse que está tranquilo, preparado, que tem documentos pra provar que não tinha nada de errado com o uso do sítio – relatou Rocha.
O sítio na cidade de Atibaia é propriedade de Jonas Suassuna e Fernando Bittar, sócios do filho mais velho de Lula, Fabio Luiz Lula da Silva, o Lulinha. A Lava-Jato investiga se empreiteiras implicadas no esquema de corrupção na Petrobras bancaram uma reforma na propriedade como uma troca de favores com o ex-presidente. O PT afirma que Lula é vítima de perseguição política.
– É um processo de politização da Justiça, de criminalização, que já vimos em vários momentos da história, quando há uma disputa polarizada do poder – afirmou Rocha.
Para o senador Lindbergh Farias, o partido precisa cobrar investigações contra o PSDB também.
– Nós, do PT, teremos uma postura ofensiva, cobrando que se investiguem a todos. Queremos que se investiguem os tucanos. Sobre essa empresa financiar ele (FHC) durante todo esse tempo, isso precisa ser investigado – acrescentou.
Ousadia na economia
O ex-presidente falou também sobre os desafios para sair das dificuldades e recuperar a economia brasileira, com o retorno do emprego e da renda do trabalhador. Ele elogiou a escolha de Nelson Barbosa para o Ministério da Fazenda, mas disse que ele poderia ser mais audacioso na economia. Citou especificamente que o ministro deveria aumentar a oferta de crédito dos bancos públicos para os brasileiros.
Lula avaliou que, depois que Barbosa entrou no governo, está "menos ousado". De acordo com Paulo Rocha, os senadores e Lula conversaram sobre a conjuntura, mas sem tirar nenhum direcionamento para votações, pois isso cabe às instâncias partidárias – o PT tem reunião do diretório nacional no Rio na semana que vem.
Sobre a reforma da Previdência, Paulo Rocha repetiu o posicionamento da base petista.
– Sabemos que a Previdência tem que estar em constante atenção de todo governo, por questão de sustentabilidade das contas públicas, mas a visão hoje no PT é de que há outras medidas que podem ser tomadas antes que a reforma da Previdência para resolver a questão fiscal.
Vídeo
Num clima descontraído, os senadores petistas também participaram da gravação de um vídeo com o ex-presidente.
– A bancada de senadoras e senadores do PT está trazendo aqui o abraço afetuoso para o presidente Lula em nome da militância do PT de todo o Brasil – disse a senadora Fátima Bezerra (RN) na mensagem, sob aplausos.
– Nosso objetivo era levar a nossa solidariedade política e pessoal a esse cerco montado a Lula – disse Humberto Costa, ao destacar ter confiança completa na lisura e na honestidade a ele.
Para Fátima Bezerra, o ex-presidente, apesar da "perseguição implacável" que é alvo, está de cabeça erguida e tem plena consciência da liderança que exerceu e exerce no País.
– Fomos fazer um ato de companheirismo e solidariedade a Lula, por todas as políticas que implementou, pelo legado que deixou ao País – completou Paulo Rocha.
*Zero Hora com agências