O ex-ministro José Dirceu admitiu ao juiz federal Sérgio Moro que viajava "uma ou duas vezes" por mês em jatinhos cedidos pelo empresário Júlio Gerin Camargo, delator da Operação Lava-Jato que confessou ter pago propina para o petista.
– Eu fiz uma viagem por mês ou duas, eu assumo. E ele (Júlio Camargo) nunca me cobrou por essas viagens – disse o ex-ministro,durante interrogatório a que foi submetido na sexta-feira passada, em Curitiba, base da Operação Lava-Jato.
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Em uma planilha que entregou à Justiça Federal, Júlio Camargo relacionou 113 trechos de viagens de dois jatos entre 2010 e 2011, tendo como passageiro "Jdirceu". Segundo o delator, as horas de voo foram abatidas de um débito de R$ 1 milhão de propina que ele tinha com o esquema ligado a Dirceu.
– Não foram 113. (Júlio Camargo) me emprestava o avião e fazia questão de emprestar o avião. Eu emprestei doutor, mas não 113 viagens. Eu já pago, vou até dizer assim, perdão da expressão, esse mico, mas se o senhor olhar, cada viagem é uma viagem por mês só. É que faz duas escalas, eu fiz seis viagens. Vem de Jundiaí, que é um problema da empresa, para me pegar em São Paulo, eu fiz mais uma viagem. Aí não é possível, eu fiz 113 viagens. Aí sai manchete no Jornal Nacional que eu fiz 113 viagens.
O juiz Sérgio Moro – que conduz os processos da Lava-Jato em primeiro grau – insistiu que poderiam se tratar de mais de seis viagens. O ex-ministro explicou que quando fala "seis viagens", isso representa "uma" por causa das escalas. Moro questionou se haviam sido dezenas de voos.
– Sim. Fazia uma ou duas por mês – disse Dirceu, acrescentando que não havia cobrança pelas viagens.
O ex-ministro também disse que Júlio Camargo lhe oferecia a aeronave.
– Não era inusitado, muitos empresários ofereciam.
Dirceu afirmou que o operador de propinas nunca pediu nada em troca.
– Ele nunca me pediu nada, aliás ele declara isso. E eu nunca pedi nada para o doutor Renato Duque (ex-diretor de Serviços da Petrobras) ou a outro diretor da Petrobras, falar tipo "atenda o sr Júlio Camargo".
Compra de jato
O ex-ministro da Casa Civil negou ter tentado comprar parte de um dos jatos de Júlio Camargo e disse que a história de venda da aeronave "é inacreditável".
– Uma hora eu comprei um terço, outra hora eu comprei metade, outra hora a Avanti comprou a outra metade, agora foi a Engevix que comprou – disse Dirceu.
Segundo o ex-ministro, Júlio Camargo teria dito a ele que queria "comprar mais um ou dois aviões".
– Eu disse para ele "conversa com o Rui Aquino, não tenho mais nada a ver com isso".
Rui Aquino era um executivo do setor de aeronaves que gerenciava os jatos de Júlio Camargo. Segundo dois delatores da Lava-Jato, Dirceu teria comprado indiretamente cota de um terço de um Citation, em 2011, pelo valor de R$ 1 milhão.