O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta terça-feira, que a presidente Dilma Rousseff fez as pedaladas fiscais para pagar dois dos maiores programas sociais de sua gestão, o Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida. Ele argumentou que o governo deveria utilizar esta justificativa para explicar à população a adoção das pedaladas, mesmo que tenha admitido não conhecer bem o assunto.
A declaração de Lula foi dada na abertura oficial do 1º Congresso Nacional do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), em São Bernardo do Campo.
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- Estou vendo a Dilma ser atacada por conta de umas pedaladas. Eu não conheço o processo, mas uma coisa, Patrus (Ananias, ministro do Desenvolvimento Agrário, que estava no evento), que vocês têm que falar é que talvez a Dilma, em algum momento, tenha deixado de repassar o Orçamento para a Caixa, porque tinha que pagar coisas que não tinha dinheiro. Ela fez as pedaladas para pagar o Bolsa Família, ela fez as pedaladas para pagar o Minha Casa Minha Vida - disse Lula.
O ex-presidente disse que "todo mundo sabe" que o Minha Casa Minha Vida subsidia trabalhadores que ganham até três salários mínimos.
- Tem um forte subsídio do governo, o dado concreto é que custa caro ao governo, é investimento que o governo faz - e continuou:
- Se o governo não subsidiar, não acontece.
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E fez um paralelo com a crise de 2008, dizendo que ela já consumiu mais de US$ 10 trilhões para salvar o sistema financeiro.
- Imagina se isso fosse colocado nas fábricas para ajudar os trabalhadores e se fosse colocado para combater a fome no mundo?
Ao ser chamado para compor o palco, ao lado de dirigentes sindicais, representantes de movimentos sociais e de políticos, como o prefeito de São Bernardo do Campo, Luiz Marinho (PT), e o ex-senador e atual secretário de Direitos Humanos da Prefeitura de São Paulo, Eduardo Suplicy, entre outros, Lula foi recebido em pé sob aplausos e palavras de ordem dos participantes do congresso.
O 1º Congresso Nacional do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) ocorre até o dia 16 e reúne 4 mil camponeses de 20 Estados brasileiros, no Pavilhão Vera Cruz, em São Bernardo do Campo, com o tema "Plano camponês, aliança camponesa e operária por soberania alimentar".
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"Oposição deveria criar vergonha e deixar Dilma governar este país"
O ex-presidente Lula criticou duramente a oposição, sobretudo o PSDB, que tem defendido a tese do impeachment ou a renúncia de sua afilhada política, a presidente Dilma Rousseff.
- A oposição deveria criar vergonha e deixar a Dilma governar este país - afirmou Lula.
Num discurso de cerca de meia hora, no qual disse que as gestões petistas ajudaram a reduzir as diferenças sociais no país, Lula afirmou que essa é a razão "do ódio que está instalado neste momento no país". E culpou a oposição pelo que considera um clima de "baixo astral e baixa autoestima" que vem tomando conta do país.
- A oposição fez a autoestima do povo ficar em baixa.
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- Perdi três eleições neste país, voltava pra casa e, como dizia Brizola (ex-governador do Rio Leonel Brizola), ia lamber as minhas feridas. Eles governavam com a maior tranquilidade. Agora, eles perderam a quarta eleição e não se conformam. Em vez de esperar a quinta, não saíram do palanque. Eles deveriam criar vergonha e deixar a Dilma governar este país - disse Lula em seu discurso.
Sair do gabinete
Apesar de defender sua afilhada política, o ex-presidente Lula voltou a cobrar que Dilma saia do gabinete, "com ar condicionado" de Brasília, para ir às ruas.
- Quando as coisas não estão indo muito bem, não tem remédio senão ir ao encontro do povo - disse.
E continuou:
- Se eu pudesse convencer a Dilma, ela iria ao congresso da CUT (cuja abertura será na noite desta terça) e ao congresso do MPA.
Lula disse que, quando se é governo ou dirigente, "é preciso ir ao encontro do povo para receber oxigênio novo, para ganhar nova motivação e sentido para governar". E lembrou que foi exatamente para atender essa parcela da população que ele criou o PT. Lula ironizou que no gabinete presidencial não entra notícia boa nem manchete de jornal favorável ao governo, daí a necessidade de ir às ruas, ao encontro do povo.
*Estadão Conteúdo