Na última parte da entrevista, Collares lembra a relação com Leonel Brizola e fala sobre o momento vivido pelo PDT no Rio Grande do Sul. Confira abaixo.
Leia outros trechos da entrevista
"Quem perdeu tem de botar a viola no saco"
"A tragédia do preso é o tempo"
"Quando Dilma saiu do PDT, disse uns negócios meio fortes, chamei de traidores"
"Aqueles que cultivam mágoa são pessoas de mal com elas mesmas"
O senhor sente saudade do Congresso, do dia a dia da política?
Não. Hoje eu sou um homem dos livros.
O que o senhor anda lendo?
Estou lendo um livro de um companheirinho do PDT, sobre o trabalhismo, para escrever um prefácio. Não lembro o nome dele.
(Neuza mostra os últimos livros que Collares leu, a maioria de política. Na pilha está um volume de poemas do chileno Pablo Neruda).
Neruda é seu poeta preferido?
Não. O meu é Castro Alves.
Com a morte de Leonel Brizola, o PDT ficou sem rumo?
Ficou, ficou. Um partido sem uma grande cabeça, sem um grande líder, sem estrutura, fica meio perdido. Não tem ninguém mais apaixonado pelo Brizola do que eu.
O PDT tem condições de voltar a ser protagonista da política no Rio Grande do Sul como na época de Leonel Brizola?
Tem condições de ser protagonista no Brasil, porque é o único partido que tem programa ideológico. O passado do trabalhismo tem 60% do que foi produzido no país. Olha a Petrobras, a Vale do Rio Doce, as universidades, a Justiça do Trabalho, tudo é fruto da cabeça do Getúlio. Depois o Jango, com as reformas de base. E o Brizola, com as desapropriações e liderando um movimento para impedir que a ditadura acontecesse em 1961. Era o Movimento da Legalidade. Com um microfone e um discurso que espelhava a realidade, o sofrimento, a amargura que o povo estava passando, Brizola conseguiu impedir que 1961 se transformasse em 1964.
Brizola é o maior político da história do Rio Grande do Sul?
Era uma dos melhores do Brasil porque ele conseguiu captar, assimilar tudo que o trabalhismo tinha feito. O trabalhismo brasileiro é superior ao trabalhismo inglês e de Israel, porque aprofundou no campo das ideias um compromisso sagrado com o trabalhador. Todo mundo fala mal da CLT, mas não consegue transformá-la, porque ali tem um conjunto de grandes conquistas dos trabalhadores. somos dotados de um conjunto de ideias que começaram há mais de 50 anos, mas que são até hoje as mais modernas do mundo. Não é o socialismo e não é o comunismo, que são generosas utopias. O trabalhismo tem definições que vêm dentro do próprio capitalismo: não exclui a propriedade, não exclui o Estado, mas tem sempre a bandeira tremulando onde há trabalhador.
O senhor exibe na sala uma foto sua com Brizola e uma foto do Che Guevara. Eles são os seus principais ídolos?
São, principalmente o Brizola. Ele tinha 38, 39 anos e semeou escolas em cada município, em cada distrito. Tu conversava com ele e sentia a honestidade. Che Guevara saiu de Cuba e queria implantar um socialismo quase utópico. Era um homem extremamente sincero.