No comando do governo gaúcho, Alceu Collares enfrentou momentos de crise na Segurança Pública e inovou ao não nomear um secretário. Confira abaixo o que diz o ex-governador sobre o período à frente do Piratini.
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"Quando Dilma saiu do PDT, disse uns negócios meio fortes, chamei de traidores"
"Aqueles que cultivam mágoa são pessoas de mal com elas mesmas"
"Não tem ninguém mais apaixonado pelo Brizola do que eu"
Quando foi governador, o senhor eliminou o cargo de secretário da Segurança Pública. Hoje, essa fórmula funcionaria?
Eu tinha o coronel Antônio Carlos Maciel e o delegado Newton Müller. Cada um tinha 25, 30 anos de experiência e eles me convenceram de que não adianta colocar um secretário de Segurança que venha de fora, não sabe nada, tem que ficar às vezes um ano e meio com um monte de cargos em comissão para entender um pouco. Então não criei o cargo de secretário e cada um deles, tanto da Polícia quanto da Brigada, faziam parte das reuniões do secretariado. O nosso secretário da Justiça era o Geraldo Gama, que fez um trabalho muito grande de pleno aproveitamento da capacidade de trabalho do preso. Porque a tragédia do preso é o tempo. Para ele, o ideal é trabalho e educação. Na União Soviética, o sujeito entrava analfabeto, fazia exame pré-profissional e talvez saísse arquiteto, engenheiro. Condenados por crime comum, porque crime político eles mandavam para a Sibéria. A gente fez um trabalho muito grande, por essa concepção de que o preso não perde a condição de ser humano. Logo que assumimos, vieram 20 mulheres de presos dizer: "olha, a forma como nos revistam é imoral, agressiva". Disse: "não vai acontecer mais". Fui para lá e acertei que escolheríamos um preso de cada galeria e ele teria o direito de escolher três para exercerem as reclamações com relação à alimentação, que é um direito deles, e à educação. Durante todo esse tempo acontecia isso.
Ao mesmo tempo o senhor teve um momento muito marcante que foi a rebelião no Presídio Central. Foi o pior momento do seu governo?
Foi o mais grave de todos. A fuga coincidiu com o casamento da Helena, filha da Neuza, no Piratini. Havia uma conversa de que o Melara pretendia invadir o palácio, mas ele ficou no hotel, onde foi preso. A informação de que o Melara queria ir no palácio foi desmentida numa carta que, lamentavelmente, não sei onde eu e a Neuza guardamos. Na carta ele dizia que jamais pensou em invadir o palácio.
Na gestão dos presídios o senhor identifica algum equívoco?
Eu não tive problema. O preso que cometeu um crime deve ser punido na forma da lei, mas não perde a condição de ser humano. E às vezes, o sistema carcerário, como Carandiru, não tem como ressocializar.
Ou como o Presídio Central.
Aqui é demais a superlotação. Isso não pode acontecer. Alguém talvez diga: o Collares está defendendo preso. Não estou defendendo preso. Estou defendendo a criatura humana, o ser humano, que cometeu um erro e não pode ser punido dessa forma, com situações em que não tenha outro caminho a não ser continuar bandido. A ressocialização tem de ser a função do Estado.