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Em Montenegro, desde a noite de domingo, o tempo é medido em centímetros. Os moradores, principalmente da região ribeirinha, não estão nem aí para os minutos. É o avanço do nível do Rio Caí que determina a hora de dormir, onde ir e o que fazer.
- Marcamos risquinhos no chão pra saber quanto que a água está avançando. Agora, ela está chegando na porta, mas os móveis já estão todos no alto - contou a aposentada Maria Lacau, 63 anos, quando levava pão para a filha, que divide a atenção entre o seu bebê recém-nascido e a cheia.
Íntimos do "esquema-enchente", Maria e o marido, Aristídes Lacau, 68 anos, não conseguem é se acostumar com as perdas.
- A gente dorme acordado, com medo. Já perdemos muitas coisas. Depois da última enchente, compramos cozinha nova. Não queremos perder de novo - torce o aposentado.
O que mais os vizinhos comentam - e comemoram - é que, dessa vez, a água está subindo de mansinho, o que dá tempo de reação.
- É melhor, mas é cansativo isso de tirar tudo do lugar e depois colocar de novo. A cada cheia, é como se estivéssemos nos mudando de casa - compara Lacau.
Esta cheia está diferente de julho, quando choveu constantemente por mais de duas semanas, porque daquela vez as pancadas foram concentradas na região do Vale do Caí. Agora, o acumulado foi maior na cabeceira do rio, na Serra, alagando, assim, "apenas" as áreas onde o Caí saiu do leito, e não todos os pontos de acúmulo e sem vazão da cidade.
Silva construiu um segundo andar em sua casa, para evitar perdas
Foto: Lauro Alves
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Há 20 anos morando a cerca de 250 metros do leito do rio, Afonso Antunes da Silva, 75 anos, olhava pra fora de casa com receio ontem à tarde. Mais uns 60 centímetros e a água invadiria a residência. No entanto, desta vez, apenas parte da casa está ameaçada.
- Construí mais um piso e coloquei tudo de mais importante lá em cima. Ficou só uma geladeira grande e uma cama box, que não tinha como subir - destaca.
A dona de casa Lilian Cristina Boos, 25 anos, é parte de uma estatística mais difícil: teve que ir, junto com os dois filhos, a mãe e o irmão, para o abrigo municipal, no Parque Centenário. Até as 17h, a família fazia parte de um grupo de 47 desabrigados em Montenegro - mas outros moradores eram aguardados para as próximas horas.
- Nosso problema foi que a sanga encheu e invadiu a casa. Deixei pra trás três cachorros. Não vejo a hora de voltar e ver o que sobrou - disse Lilian.