A organização Human Rights Watch (HRW) acusou, nesta quarta-feira, uma força paramilitar sudanesa de ter cometido assassinatos e estupros de civis em série durante duas campanhas realizadas desde fevereiro de 2014 na região em conflito de Darfur.
As Forças de Apoio Rápido (RSF, em inglês), uma milícia ligada ao governo de Cartum, dirigiram "duas campanhas de contra-insurgência em Darfur, durante as quais seus homens atacaram vilarejos, saquearam casas, agrediram, violentaram e executaram os moradores", denunciou a ONG.
As operações "Verão decisivo 1" e "Verão decisivo 2" foram anunciadas em fevereiro e dezembro de 2014, respectivamente, pelo presidente Omar el-Bechir, contra rebeldes em Darfur. El-Bechir é procurado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI) por crimes de guerra nesta vasta região do oeste do Sudão castigada pela violência desde 2003.
Segundo a HRW, foi durante essas operações que os abusos foram cometidos.
Essa organização de defesa dos direitos humanos baseada em Nova York conseguiu entrevistar vítimas das RSF, assim como desertores dessa milícia, oficialmente subordinada ao Serviço Nacional de Inteligência e de Segurança (NISS, em inglês).
"Entre os abusos mais monstruosos sofridos pelos civis estão a tortura, os assassinatos e os estupros coletivos", acusa a HRW, que chega a falar em "crimes de guerra".
Em entrevista coletiva, o representante da HRW sobre o tema junto à ONU, Philippe Bolopion, disse achar "difícil de acreditar que as autoridades sudanesas não estejam a par do que as RSF fazem".
Segundo ele, Cartum vê "as RSF como sua melhor arma contra os rebeldes".
Uma das piores atrocidades relatadas pela HRW foi um ataque contra a cidade rebelde de Golo, na zona montanhosa do Jebel Marra. No episódio, tropas das RSF teriam tomado a cidade em 24 de janeiro de 2015, matando e estuprando civis, saqueando e queimando casas. A denúncia da ONG tem como base o relato de 21 pessoas que presenciaram o ataque.
Segundo testemunhas, os milicianos estupraram dezenas de mulheres no hospital de Golo.
"Muitas dessas mulheres foram vítimas de estupros coletivos, frequentemente diante de outros moradores forçados a olhar. Algumas das que resistiram foram mortas", de acordo com o relatório da HRW.
Neste documento, o diretor da HRW para a África, Daniel Bekele, afirma que as RSF "mataram, estupraram e torturaram civis de forma organizada, deliberada e sistemática". Bekele pede o desarmamento dessa milícia.
Em Nova York, Bolopion convocou Grã-Bretanha, França e Estados Unidos a "serem bem mais virulentos no Conselho de Segurança [da ONU] e a pressionar por mais ações contra abusos desse tipo, cometidos sob os olhos dos capacetes azuis [os soldados das missões de paz da ONU]".
Uma missão conjunta ONU-União Africana em Darfur (Minuad) foi enviada para a região com mandato para proteger os civis e garantir a entrega da ajuda humanitária.
Mais de 300.000 pessoas foram mortas em Darfur desde 2003, segundo as Nações Unidas, e pelo menos 2,5 milhões tiveram de fugir de suas casas.
* AFP