Foi em uma reunião-almoço que se estendeu por mais de três horas, acompanhada por pratos de salada e costelinha de porco, no Salão de Banquetes do Palácio Piratini, que o governador José Ivo Sartori expressou nesta segunda-feira angústias e deliberações a respeito da crise que engolfou o Estado após o anúncio de parcelamento de salários de servidores.
Enquanto o funcionalismo protestava nas ruas, Sartori recebeu o secretariado para fazer análises conjunturais, atualizar a amplitude da paralisação na segurança pública e cobrar a finalização dos projetos de lei que pretende entregar até sexta-feira com o objetivo de reestruturar a máquina pública.
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O primeiro foco foi acompanhar em tempo real a situação da Brigada Militar. Na sexta, associações de servidores da categoria pediram à população não sair às ruas na segunda por conta da paralisação. Havia temor de que a Região Metropolitana virasse "terra de ninguém".
No domingo, Sartori chegou às 20h de viagem a Curitiba, depois de acompanhar a formatura de um sobrinho em Medicina, e foi ao Piratini, engatando reunião que invadiu a madrugada. Foram avaliados potenciais pontos de crise.
Sartori disse ao secretário da Segurança, Wantuir Jacini, que queria o controle de eventuais "excessos". A ordem foi de contato permanente com os oficiais da Brigada, para conversar com as tropas, dizendo que o governo respeitava e compreendia a manifestação, mas chamando os policiais a atender seu "compromisso com a sociedade".
- Essa foi a grande preocupação do governador - afirmou a primeira-dama Maria Helena Sartori.
No final de semana, enquanto esteve em Curitiba, Sartori se atualizou por telefone e distribuiu determinações aos assessores mais próximos.
Promessa de se mostrar mais presente a partir de agora
Nesta segunda, o dia foi de reuniões: um seminário de governo na PUCRS e, depois, conversas com presidentes de partidos aliados, secretários e chefes de poderes - Judiciário, Ministério Público, Assembleia, Defensoria Pública e Tribunal de Contas do Estado. Após o último compromisso, quebrou o silêncio que mantinha desde o anúncio de parcelamento de salários e falou à imprensa.
Criticado por terceirizar as falas a assessores em momento crucial, Sartori deve se mostrar mais presente a partir de agora. Ao menos nesta semana, fará anúncio na entrega à Assembleia da terceira fase do ajuste fiscal.
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Essa pauta foi a outra tecla batida por Sartori nas discussões de segunda. Na reunião-almoço com secretários, foi enfático e fez cobranças ríspidas.
- Ele reclamou muito da demora interna para fechar o texto dos projetos. Também falou muito em desapego e coragem, de fazer o que é preciso, que é transformar o Estado agora - disse um dos integrantes do núcleo de governo.
Na linguagem de Sartori, desapego significa apoiar o governo na defesa de medidas de reestruturação do Estado, com iniciativas de aumento de receitas e redução das despesas. Cobrou o secretariado que não pense eleitoralmente, o que costuma ser um freio à apresentação de propostas impopulares.
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É uma sinalização de que vai bancar aumento de ICMS, adoção da previdência complementar e extinção de fundações de segundo escalão, entre outras medidas elaboradas para debelar a crise financeira que impediu até mesmo o pagamento de salários.
Sartori também pediu que os presidentes de partidos aliados e os secretários ajudem no convencimento dos parlamentares governistas sobre a necessidade de aprovação do pacote. Reuniões foram marcadas para o restante da semana . Deputados estaduais e federais serão chamados ao Piratini para conhecer detalhes do pacote e ouvir apelos pela sua aceitação.