Após uma caçada de seis anos, agentes da Polícia Federal (PF) que representam a Interpol (a Polícia Internacional) no Rio Grande do Sul localizaram dois policiais federais argentinos procurados por crimes durante a ditadura naquele país. Um deles foi preso. O outro morreu há poucos dias e seu corpo está no Departamento Médico Legal (DML), à espera de traslado a Buenos Aires.
Roberto Oscar González, 64 anos, vivia em Viamão há cerca de uma década. De acordo com a PF, ele morava com outro policial federal argentino, também foragido, que era acusado pelos mesmos tipos de crimes.
Pedro Osvaldo Salvia, 63 anos, morreu por causa de problemas de saúde, no Instituto de Cardiologia - Hospital Viamão, em 18 de junho. O corpo dele será repatriado pela embaixada argentina. A suspeita é de que Salvia tenha morrido vítima de ataque cardíaco.
Roberto Oscar González e Pedro Osvaldo Salvia viviam em um sítio em Viamão e criavam cavalos no local
Foto: Polícia Federal/Divulgação
A PF estava no encalço da dupla desde 2009. Agentes da Interpol cumpriram mais de uma centena de buscas até encontrar o paradeiro deles. Em 2013, autoridades portenhas estiveram em Porto Alegre para repassar aos agentes gaúchos informações sobre os foragidos. O governo de Buenos Aires oferecia recompensa no valor de US$ 61 mil (cerca de R$ 180 mil) por pistas sobre a dupla. Os agentes da PF que localizaram os fugitivos abriram mão desse dinheiro.
González (que era oficial principal da PF argentina, equivalente a delegado) e Salvia (agente policial) eram procurados por sequestros, roubos e assassinatos de opositores políticos da última ditadura militar argentina, no período de 1976 a 1983. Entre eles, o de um famoso jornalista e escritor: Rodolfo Walsh.
Multa em veículo de empresa de um dos fugitivos deu o caminho
Ambos estavam com prisão preventiva decretada pelo ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF). González ficará detido no Presídio Central de Porto Alegre, provavelmente até o pleno do STF confirmar sua extradição para a Argentina, onde será julgado por crimes contra a humanidade.
A PF descobriu que ele era proprietário de uma empresa de importação e exportação, que faliu, mas ainda possuía um veículo em nome dela. Com base em uma multa aplicada para esse carro, os policiais descobriram o endereço do foragido, um sítio às margens da ERS-118. Lá eles criavam cavalos e montavam a "motovaca", uma espécie de touro mecânico usado em rodeios.
A PF infiltrou um agente no sítio, que se mostrou interessado em cavalos vivos e touros mecânicos. Ele chegou a conversar com os suspeitos e confirmou suas identidades - González usava o nome verdadeiro. Na segunda-feira, verificado o mandado de prisão pelo STF, os policiais o prenderam e descobriram que Salvia havia morrido.
González é investigado por um tribunal de Buenos Aires pelo envolvimento no assassinato de centenas de opositores da ditadura. O regime militar argentino teria matado cerca de 30 mil pessoas, conforme estimativas de entidades de defesa dos Direitos Humanos.