O plebiscito sobre a dívida grega ganhou contornos de final de Copa do Mundo. Especialistas e amadores duelam dentro e fora das redes sociais em favor do não e do sim. A atenção e as emoções mobilizadas pelo plebiscito servem, inadvertidamente, à estratégia do governo grego de voltar a Bruxelas com um mandato da praça.
Se o centro de Atenas for tomado como termômetro, o não - ou seja, a rejeição dos termos apresentados pelos credores para renovação do plano de ajuda à Grécia - já é vitorioso.
O que levou a Grécia ao fundo do poço
O premier Alexis Tsipras reuniu dezenas de milhares de pessoas num megacomício na noite de sexta. Num discurso capaz de confundir seus opositores estrangeiros, Tsipras tocou na tecla do nacionalismo grego ("Não aos ultimatos, à chantagem, à política do medo") para defender a permanência do país no bloco do euro ("Ninguém tem o direito de ameaçar com a divisão da Europa").
A "frente do sim", que reúne os partidos oposicionistas Pasok, Nova Democracia e To Potami, não conseguiu realizar nada parecido.
O mais trágico é que Tsipras tem de escolher entre vencer o plebiscito e dizer a verdade aos gregos. A verdade é que o clube do euro está condenado, e o primeiro capítulo de sua danação será o desligamento da Grécia - algo que a Alemanha não quer e a França não pode evitar. Nem uma possível vitória do sim serviria para criar um novo cenário.
A implementação das medidas recomendadas pelos credores não tornará a Grécia mais atraente para investimentos - muito pelo contrário - nem contribuirá para a formação de um governo mais confiável.
Com amargura e ironia em doses intercambiáveis, o ex-premier Giorgios Papandreu admitiu há poucos dias que a Grécia exibe hoje mais consenso do que sob seu gabinete, escorraçado no auge da crise de 2012.
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