Entre as críticas à decisão do governo grego de submeter a última proposta dos credores a um plebiscito, estão as de que a consulta é apressada, mal organizada e pouco clara. Oito dias seriam um prazo exíguo demais para que a questão fosse esclarecida. Nem todos disporiam de informação adequada para compreender a pergunta constante da cédula de votação.
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Num país que adota o voto manual, faltaria até gráfica disposta a imprimir a papelada a ser preenchida. Por fim, até o Conselho da Europa - que não é, como o nome dá a entender, uma instituição oficial da União Europeia, e sim uma ONG com participação de 47 países - fez questão de dizer que o plebiscito grego não atende a seus parâmetros fixados.
A realidade é que a ideia de submeter a negociação da dívida grega a um plebiscito não é invenção do premier Alexis Tsipras. A proposta foi aventada pela primeira vez em 2011, durante a crise anterior, pelo então primeiro-ministro Georgios Papandreou.
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A perspectiva de que os gregos fossem às urnas para chancelar um pacote de ajuda altamente impopular deixou as euroautoridades à beira de um ataque de nervos. A chanceler alemã, Angela Merkel, e o então presidente da França, Nicolas Sarkozy, chamaram Papandreou à ordem. Pouco depois, a Grécia tinha um novo primeiro-ministro, Lucas Papademos, ex-vice-presidente do Banco Central Europeu.
A sugestão de que os gregos não saberão o que estão votando tampouco faz sentido. A Grécia já passou por oito planos de ajuste. Expressões como IVA, EKAS e outras soam como grego em Caratinga, mas são tristemente familiares no Pireu. Tsipras pode ser um premier lamentável, mas, por algum motivo, 36% dos eleitores preferiram seu partido em janeiro.
A mais recente pesquisa de intenção de voto para domingo, divulgada ontem pelo instituto GPO, indica que 47,1% dos gregos pretendem dizer sim à proposta dos credores, mas 43,2% estão fechados com o não. Qualquer que seja a decisão, a crise grega continuará a exigir a presença não apenas de economistas, mas, sobretudo, de estadistas. E, no que toca aos últimos, a Europa está em moratória há muito tempo.
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