O último ato na longa negociação entre o Irã e as grandes potências pelo programa nuclear iraniano começou nesta segunda-feira, em uma corrida contra o tempo para resolver as divergências que impedem um acordo histórico, um dia antes da data limite de 7 de julho.
Os ministros das Relações Exteriores do grupo 5+1 (Estados Unidos, Rússia, Reino Unido, França, China e Alemanha) retornaram a Viena no décimo dia de negociações, mas as partes advertiram que o acordo ainda não estava garantido.
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Nesta segunda-feira, um funcionário iraniano afirmou que Teerã fez várias concessões e mostrou muita flexibilidade, sendo necessário que os ministros abordem "uns poucos assuntos". Apesar disso, admitiu que alguns deles eram de peso e não haviam sido resolvidos pelos especialistas ou pelas autoridades ministeriais de mais baixa patente, e não eram fáceis.
Também estavam presentes nesta segunda-feira o ministro das Relações Exteriores russo, Serguei Lavrov, e chinês, Wang Yi, que disse nesta segunda-feira que "um acordo completo estava ao alcance".
- O importante é que hoje e amanhã todas as partes, especialmente Estados Unidos e Irã, tomarão suas decisões finais o mais rápido possível - disse Wang.
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Na véspera, o secretário de Estado americano, John Kerry, declarou que "chegou a hora" de concluir as negociações sobre o programa nuclear iraniano, indicando, porém, que as conversações seguem abertas em Viena.
- Chegou a hora de ver se podemos ou não chegar a um acordo - disse Kerry, acrescentando que as negociações ainda poderiam caminhar "para um lado ou outro".
Esta é a segunda aparição pública de Kerry desde sua chegada em Viena, em 26 de junho, para a maratona de discussões e reuniões diárias com o seu colega iraniano Mohammad Javad Zarif.
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- Nos últimos dias, fizemos progressos genuínos, mas quero ser absolutamente claro com todos, não estamos onde deveríamos estar com relação a várias das questões mais difíceis - acrescentou Kerry, que realizou três reuniões no domingo com Zarif.
- Todas as cartas estão na mesa. A questão principal é saber se os iranianos aceitam assumir compromissos claros - destacou o chefe da diplomacia francesa, Laurent Fabius, de volta a Viena na tarde de domingo, lembrando que restam apenas "72 horas de negociações".
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Já a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, declarou em sua chegada à Viena que um acordo "está muito próximo".
- O momento chegou (...) estamos muito perto de um acordo - assegurou, antes de entrar no palácio Cobourg, onde ocorrem as negociações.
As negociações de Viena foram retomadas formalmente há dez dias, e os negociadores têm, teoricamente, até 7 de julho para chegar a um acordo final.
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Equação complexa
O Irã e 5+1 tentam resolver há meses a questão nuclear iraniana, um dos temas internacionais mais complexos e mais sensíveis de todos. Nos termos do acordo procurado, Teerã concordaria em reduzir e colocar sob controle internacional seu programa nuclear, em troca de um levantamento das sanções que estrangulam sua economia há uma década.
Especialistas e diplomatas trabalham dia e noite em um "texto de 20 páginas, com cinco anexos, totalizando entre 70 e 80 páginas", segundo Abbas Araghchi, um dos principais negociadores iranianos.
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O objetivo é apresentar aos ministros um projeto o mais preciso e consensual possível, de modo que os políticos tomem as decisões finais.
Um eventual acordo busca impedir que o programa iraniano tenha uma dimensão militar, em troca do levantamento das sanções internacionais que afetam o Irã.
Os iranianos exigem uma retirada rápida e total das sanções, enquanto o grupo 5+1 defende um processo gradual e reversível em caso de violação do acordo.
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O diretor-geral da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), Yukiya Amano, declarou no sábado que a sua organização poderia concluir ainda este ano a investigação sobre a "possível dimensão militar" (PMD) do programa nuclear do Irã, um dos pontos-chave do processo.
A PMD é um dos aspectos mais delicados das negociações. A AIEA suspeita que Teerã pode ter conduzido pesquisas, pelo menos até 2003, com o objetivo de adquirir a bomba atômica, e quer acesso aos cientistas envolvidos, bem como aos documentos e instalações que poderiam ter abrigado estas investigações.
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O Irã sempre negou qualquer intenção em adquirir arsenal militar nuclear, alegando que os documentos nos quais a AIEA se baseia são falsos.
*AFP
Acordo nucelar
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Data limite para finalizar o acordo é terça-feira, 7 de julho
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