![AFP PHOTO / OSSERVATORE ROMANO AFP PHOTO / OSSERVATORE ROMANO](http://www.rbsdirect.com.br/imagesrc/17502097.jpg?w=700)
O que o papa Francisco disse ao receber das mãos do presidente boliviano, Evo Morales, o que está sendo chamado de "crucifixo comunista"? A cena, ocorrida durante a visita papal relâmpago a La Paz, ontem, tornou-se alvo de uma das maiores polêmicas do pontificado de Jorge Mario Bergoglio.
O encontro entre Evo e o Papa ocorreu no palácio presidencial, na capital boliviana. Uma câmera de TV do Vaticano, presente ao ato, registrou a cena.
O presidente coloca ao redor do pescoço do Papa dois colares (um deles ornado com uma miniatura do "crucifixo comunista"). Em seguida, enquanto assessores abrem uma caixa, Evo fala ao microfone, dirigindo-se ao Papa, e ouve-se o nome "Luis Espinal". Francisco, que permanece com o olhar baixo e o semblante fechado durante a entrega dos colares, observa a escultura que o presidente lhe mostra. Ao ouvir o nome de Espinal, seu semblante se desanuvia aos poucos e, ao responder a um comentário de Evo, faz uma rápida observação, com ar de surpresa e um movimento de negativa com a cabeça.
Pelo menos um meio de comunicação afirmou que o Papa teria dito, em espanhol, "No está bien eso" (Isso não está bem). Muitos outros sustentaram, no entanto, que a frase do Papa foi "Eso no lo sabia" (Isso eu não sabia).
Assista ao vídeo aqui:
O crucifixo foi entalhado pelo padre jesuíta Luis Espinal Camps, de nacionalidade espanhola, morto por paramilitares em janeiro de 1980 e a quem Francisco rendera homenagem na chegada à Bolívia, minutos antes. A escultura original (o que foi ofertado ao Papa era uma réplica) encontra-se na sede da Companhia de Jesus, em La Paz.
Depois do episódio, o padre Federico Lombardi, porta-voz do Vaticano e também jesuíta, definiu Espinal como "um artista, muito criativo" e afirmou que a obra não era "uma interpretação marxista da fé" e sim uma expressão de sua crença no diálogo de todos os bolivianos.
- Certamente, entretanto, não será colocada numa igreja - acrescentou.
Em sites jornalísticos e blogs especializados em religião e também nas redes sociais, a cena provoca debates sobre a relação entre fé e política e os posicionamentos do Papa. Na quinta-feira, em La Paz, o Papa fez aquele que foi considerado seu discurso mais político, no qual chamou o capitalismo de "ditadura sutil" e afirmou:
- Digamos sem medo: queremos uma mudança real, uma mudança de estruturas. Este sistema já não se aguenta, os camponeses, trabalhadores, as comunidades e os povos tampouco o aguentam. Tampouco o aguenta a Terra, a irmã Mãe Terra, como dizia São Francisco.