
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, disse na tarde desta quarta-feira, em depoimento à CPI da Petrobras, que nunca recebeu pressão da presidente Dilma Rousseff para interferir em qualquer investigação. Cardozo declarou aos deputados da comissão que o dia em que a presidente não o quiser no ministério, ele sairá e ficará "na trincheira do cidadão comum".
O ministro comentou que a corrupção é um fenômeno histórico no Brasil, que começa no século 16.
- O sistema político brasileiro é uma das principais causas da corrupção - concluiu.
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O titular do Ministério da Justiça defendeu o fim do financiamento privado de campanhas eleitorais e disse que o atual sistema sustenta o ciclo da corrupção no País.
- Não podemos ser complacentes com a corrupção, venha de onde ela vier - disse Cardozo. - Se eventualmente um militante, ou um ou outro dirigente cometeu equívoco, tem que pagar o preço. Temos que parar com a mania de proteger os amigos e pedir a punição dos inimigos.
Cardozo negou que encontro com o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, e com a presidente Dilma na cidade do Porto, em Portugal, tenha sido para tratar da Operação Lava-Jato. Segundo ele, o teor da conversa foi o reajuste do Judiciário, e outros ministros do STF sabiam do jantar com a presidente.
- Foi uma situação absolutamente pública - reforçou.
Vazamentos
O ministro da Justiça condenou os vazamentos ilegais de informações sobre as investigações da Operação Lava Jato. Cardozo disse que vazamentos geram situações nocivas.
- Acho lamentável que muitas vezes algumas pessoas são atingidas em sua honra - afirmou.
Ele lembrou que as delações premiadas não são "sentenças condenatórias" e que os delatores podem mentir, de forma que suas declarações "não têm valor probatório".
O ministro ponderou que algumas informações das investigações são do próprio juiz Sérgio Moro, que resolve divulgá-las, mas outras são completamente ilegais. Ele disse que sempre que há vazamentos ilegais, é determinada a abertura de inquérito.
- Acho inaceitável que se vaze informação.
Odebrecht
Questionado sobre o encontro que teve com advogados da Odebrecht no Ministério da Justiça, Cardozo disse que "só nas ditaduras advogados não podem ser recebidos" pelo Ministério da Justiça".
- Repilo com veemência aqueles que acham que é indevido - respondeu.
O ministro explicou que os defensores fizeram reclamações de situações indevidas na Operação Lava-Jato e que a reunião se deu dentro da competência do Ministério.
- Não receber advogados é violação da lei - justificou.
Ele disse que frequentemente se reúne com autoridades, entre eles o procurador-geral Rodrigo Janot. O ministro disse que, nos últimos meses, se encontrou pelo menos cinco vezes com Janot para tratar de diversos assuntos.
Grampo
Segundo José Eduardo Cardozo, as investigações sobre a escuta ilegal colocada na cela do doleiro Alberto Youssef na sede da Polícia Federal no Paraná estão sob sigilo de investigação da Corregedoria da PF.
O ministro afirmou que não tem conhecimento do andamento das apurações, mas lembrou que a primeira notícia foi de que foram instaladas escutas no colchão e no forro da cela de Youssef. O assunto resultou em instauração de inquérito e acabou sendo encaminhado à Corregedoria. Caso seja comprovada a existência de escuta ilegal, Cardozo defendeu a punição dos envolvidos.
- Escutas ilegais jamais podem ser feitas - declarou.
Sobre a escuta encontrada no fumódromo da sede da PF em Curitiba, o ministro disse que a investigação também está sob sigilo, mas mais próxima do encerramento.
Cardozo contou que já demitiu 65 servidores e que, por isso, é chamado de "ministro mão pesada". Afirmou, também, que não permite acobertamento.
- Polícia que não corta na própria carne não se faz respeitar - defendeu.
Críticas
Ouvido na condição de testemunha, o ministro da Justiça começou seu depoimento à CPI da Petrobras negando estar constrangido pela convocação.
- É dever de ministro de Estado prestar informações ao Parlamento - afirmou.
Em sessão cheia e no maior plenário da Casa, Cardozo rechaçou as críticas que tem recebido. Ele negou que o ministério use a Polícia Federal para atacar adversários e rebateu as versões de que não consegue controlar as ações policiais. Na avaliação do ministro, as críticas são infundadas.
- Quem não quer sofrer ataques, que não entre na vida pública. Quem está na chuva é para se molhar.
*Estadão Conteúdo