O descontrole sobre o estado das pontes no Rio Grande do Sul, agravado pela falta de fiscalização do excesso de carga nos caminhões, põe à prova a sorte de quem circula pelas estradas. Estruturas antigas sem manutenção, carência de técnicos nos órgãos responsáveis e verbas escassas se somam para potencializar o risco de quedas.
O caso mais recente no Estado é o da centenária ponte Júlio de Castilhos, em 31 de maio, em Jaguari, na Região Central. Sem suportar o peso de carreta bitrem, a travessia sucumbiu e reacendeu o alerta para a necessidade de medidas preventivas para melhorar as condições de segurança das pontes. A carência de técnicos no Departamento Estadual de Estradas de Rodagem (Daer) é nítida: de 850 pontes e viadutos em vias estaduais, cerca de 60% ainda precisam passar por vistoria. Outro dado alarmante é que, das 317 estruturas já avaliadas, 30 precisam de intervenção urgente.
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Atento à deficiência, o Tribunal de Contas do Estado (TCE) promete começar a auditar no próximo mês os planos de manutenção de pontes do Daer, da Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR) e dos 497 municípios. A iniciativa dá prosseguimento a um levantamento tornado público em janeiro, cujo resultado demonstrou que o Daer e 10 municípios analisados, que compreendem um terço da população, não tinham um inventário completo das obras de arte sob sua reponsabilidade - pontes, viadutos e túneis -, plano completo de manutenção das estruturas ou informação como data da última vistoria.
Diante do quadro, foram enviados ofícios para os gestores avisando que estes pontos passarão a ser mais cobrados no ciclo anual de auditorias. Além da questão da segurança, as pontes são importantes para a atividade econômica e o desenvolvimento regional no Estado, observa o TCE.
- Comunicamos que faríamos este trabalho para que tomassem providências. Vamos olhar documentos comprobatórios de vistorias e ver se há no orçamento verba separada para reparos - exemplifica a auditora do TCE Andrea Mallmann, que prevê ter concluídas as auditorias em abril de 2016.
Para o presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Estado (Crea-RS), Melvis Barrios Junior, o caso de Jaguari e outros de queda de pontes ocorridos no Estado nos últimos anos não são problemas pontuais.
- A situação é simples. Não existe manutenção nas pontes das rodovias estaduais e federais. As rodovias estão praticamente abandonadas, em péssimo estado de conservação. Essa si­tua­­ção só tende a se agravar e os levar a um colapso - diz Barrios, que também critica a falta de sinalização indicativa de capacidade de peso nas pontes.
Na avaliação do presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística no Estado do Rio Grande do Sul (Setcergs), Afrânio Kieling, o maior problema é que, com a escassez de recursos públicos, a infraestrutura do Estado e as pontes não acompanharam a evolução da frota, que tem veículos cada vez maiores.
Barrios aponta que, além da falta de recursos, os órgãos responsáveis têm carência de profissionais como engenheiros para fazer o diagnóstico da situação das obras de arte e a situação se agrava com a falta de fiscalização do excesso de peso nos caminhões. Hoje, Daer e Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) não têm nem sequer uma balança de pesagem funcionando no Estado. Para João Fortini Albano, professor de transporte da Escola de Engenharia da UFRGS, a fiscalização é primordial:
- O excesso de peso precisa ser fiscalizado porque provoca destruição acelerada dos pavimentos e, nas pontes, o colapso das estruturas.
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Caio Cigana
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