Santa Catarina ainda não tem condições de se defender adequadamente dos desastres naturais que atingem o Estado. Se na região do Vale do Itajaí, que já sofreu com grandes enchentes, há um plano de contingência melhor estruturado e uma população melhor informada sobre como agir nessas situações, no restante do território estadual ainda faltam equipamentos e informação para garantir o menor dano possível diante a eventos como o tornado de Xanxerê, que causou prejuízo de R$ 29 milhões.
::: Relembre oito tornados que ocorreram em Santa Catarina
::: Entenda porque o Estado está na rota dos tornados
::: Veja vídeos do tornado que atingiu o Oeste do Estado
O secretário da Defesa Civil de Santa Catarina, Milton Hobus, reconhece que ainda faltam recursos ao Estado, mas ressalta que esse processo não ocorre de forma rápida. É preciso tempo para investir em equipamentos e treinar equipes para operar esses sistemas de monitoramentos e defesas.
- Não, não temos equipamentos para cobrir todo o Estado. Estamos no início do trabalho. Primeiro que não temos todas as informações centralizadas e tratadas. Não temos uma cobertura suficiente de radares e nem conhecimento para saber tratar todas essas informações. É algo que vai acontecer passo a passo. O importante é que existe planejamento e cada mês colhemos melhores resultados - avalia o secretário.
A necessidade de dar atenção ao treinamento de equipes e educar, instruir a população é apontada como ação principal pela professora e pesquisadora de meteorologia Márcia Fuentes, do Instituto Federal de Santa Catarina.
- Antes de pensar em equipamentos, é preciso informação em todos os segmentos. Informar e educar os envolvidos para agir nesses trabalhos. Precisamos ter um centro de estudos para esses fenômenos, pessoas treinadas para operar os instrumentos de pesquisa e principalmente, educar a população. Para então pensar em equipamentos - explica a professora.
Em entrevista por telefone, o secretário de Defesa Civil Milton Hobus explicou como Santa Catarina está se preparando e evoluindo nesse caminho. Hobus disse que treinamentos e ações educacionais estão em andamento e novos equipamentos devem ser instalados até junho de 2016. Verdade que o Estado evolui na cobertura e investimentos, mas a velocidade dos tornados e tempestades ainda têm sido maior.
Confira a entrevista completa com o secretário de Defesa Civil, Milton Hobus
Como você avalia a ação da Defesa Civil em Xanxerê?
Hobus: A Defesa Civil se estruturou há um bom tempo para poder estar presente e dar resposta rápida. Tanto que na noite de segunda-feira já estávamos presentes na região. Demos assistência necessária, porque nessa hora as pessoas não sabem o que fazer. O nosso trabalho foi forte e continuará presente para fazer a organização do trabalho.
Então a Defesa Civil atendeu às necessidades da região?
Hobus: Ela está preparada para isso. Mas é muito difícil atender tantas pessoas com tantos danos. Mas a ajuda e o trabalho com outros órgãos é importante nesse processo.
E como foi esse trabalho em conjunto?
Hobus: Fomos muito rápidos e eficientes. O Estado tem conhecimento disso. É um trabalho que funciona bem e funcionou em Xanxerê. Onde todos sabem o que fazem.
Você mesmo disse que as pessoas não sabem o que fazer. Você acredita que cabe a Defesa Civil informar melhor essas pessoas para saber como agir nessa situação?
Hobus: Esse é um trabalho que começamos em 2013 e que fornecemos material e fizemos seminários de capacitação para que os municípios realizassem os seus planos de contingência. Mas as cidades que não têm essa memória de desastres acabam não fazendo. Se você vai a Blumenau, Rio do Sul, Itajaí, esse planos estão prontos e a população melhor orientada. Mas sem essa informação de base, a ação do Centro de Monitoramento de Alertas, que será inaugurado, e informações de outros sistemas ficam sem efetividade. Por isso o Estado está investindo na contratação dos planos de contingência municipal para todos os 295 municípios.
O que é esse Centro de Monitoramento e como ele poderá ajudar nessas situações?
Hobus: Dentro do projeto de do Centro de Monitoramento de Alertas está a disponibilização de informações e ação pela internet e via celulares para que as pessoas tenham acesso a todos os alertas em todo o território de Santa Catarina. Com essas ações esperamos criar uma nova consciência acostumada com essas situações e capaz de agir com antecedência.
Mas essa ação não ficará restrita ao Centro de Monitoramento de Alertas?
Hobus: Temos também ações junto às escolas. Um embrião desse programa já foi feito em 2014 e agora queremos, em parceria com Secretaria de Educação, para em quatro anos atingir todas as escolas públicas do Estado e poder instruir desde a formação educacional.
Onde será esse Centro de Monitoramento de Alertas?
Hobus: Será na Defesa Civil em Florianópolis e estará pronto em um ano. Daqui ele irá integrar todas as informações do Estado, para interpretar e disponibilizar essa informação apurada. Os meteorologistas poderão se comunicar e centralizar essas informações.
Quanto a equipamentos, o Estado tem o suficiente para fazer o monitoramento de todo o território de SC?
Hobus: Não, não temos. Estamos no início do trabalho. Primeiro que não temos todas as informações centralizadas e tratadas. Não temos uma cobertura suficiente de radares e nem conhecimento para saber tratar todas essas informações. É algo que vai acontecer passo a passo. O importante é que existe planejamento e cada mês colhemos mais resultados.
Então ainda falta estrutura para o Estado? Tanto de equipamento e de pessoas?
Hobus: Mas mesmo sem uma estrutura adequada, a Defesa Civil emitiu para a região Oeste um alerta de fortes temporais para segunda-feira. Só que não temos nem conhecimento e capacidade para avaliar uma informação como recebemos do Simepar (Sistema Meteorológico do Paraná), cujas imagens estão disponíveis para Santa Catarina. Ainda não temos capacitação dos meteorologistas para tratar essas informações. E tudo isso é um aprendizado, que demanda um tempo e que o Estado já começou a fazer.
Que equipamentos são esses?
Hobus: Um radar como o de Lontras a ser instalado no Oeste de Santa Catarina, que é promessa do Governo Federal e que iniciará a varredura desde o Rio Grande do Sul. A previsão que o Governo Federal passou é para o final deste ano. Mas o governador já determinou, que se não ocorrer a ajuda, o Estado irá fazer porque não podemos mais esperar. Outro radar menor, com outras características, deve ser instalado no Sul. Além desses radares, outros 25 milhões devem ser investidos para equipamentos no Centro de Monitoramento de Alertas e equipamentos de campos para levantar mais informações.
Já tem lugar determinado para esses radares?
Hobus: O estudo técnico definitivo da cidade e lugar específico não está pronto, mas deve ser em Chapecó. E outro radar, menor, deve ser em Criciúma.
Prazo para eles estarem em funcionamento?
Hobus: A ideia é que tudo esteja funcionando junto com o Centro de Monitoramento de Alertas em junho de 2016.
Como o Estado irá se preparar para dar manutenção desses equipamentos para não deixá-los inoperantes como o radar de Lontras?
Hobus: É todo um aprendizado. Nós ainda não estamos prontos para operar esse sistema. O próprio radar em Lontras estava operando de forma assistida. Nós ainda não demos o aceite dele, justamente por causa disso. E o que aconteceu com ele foi um problema técnico com a queima de alguns circuitos eletrônicos que a empresa ainda não soube explicar. Segundo a experiência do Simepar, que tem esses equipamentos, houve problemas no início e depois foram solucionados. Precisamos evoluir de forma rápida.
O Estado poderá se defender dessas intempéries?
Hobus: Iniciamos isso em 2013. Esse processo está em construção e levará algum tempo para que todos no Estado tenham acesso a essas informações e todos possam agir e ter conhecimento delas. Vamos aprendendo, fazendo intercâmbio de informações para que possamos aprimorar nosso sistema de leitura de informações e também a população saber agir em autodefesa. Queremos que o Estado tenha real condições de enfrentamento desses desastres que podem ocorrer.