Trabalhando cerca de 12 horas por dia, incluindo expedientes aos finais de semana e feriados, nove delegados, oito escrivães, quatro peritos e 21 agentes integram a equipe da Polícia Federal na Operação Lava-Jato, que investiga desvios milionários em contratos da Petrobras com empreiteiras. Coordenador da força-tarefa, o delegado Igor Romário de Paula recebeu ZH nesta segunda-feira no seu gabinete, na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, e assegurou, durante entrevista de 33 minutos, que as delações premiadas, instrumento que vive em fogo cruzado entre apoiadores e críticos, serão ampliadas para além das atuais 14.
Enquanto trabalham para concluir cerca de 130 inquéritos, os delegados vislumbram a ampliação do horizonte da apuração. Como há o diagnóstico de que as maiores empreiteiras do país operam sistematicamente com métodos de superfaturamento de contratos e pagamento de propinas, os investigadores encontraram indícios de que as empresas implantaram o mesmo esquema em outras áreas em que venceram licitações milionárias, como o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), a diretoria de Óleo e Gás da Petrobras e o setor elétrico brasileiro. O rastro pode se estender de forma a atingir obras estaduais e municipais. A seguir, leia os principais trechos da entrevista.
A Operação Lava-Jato começou com investigações sobre lavagem de dinheiro e até tráfico de drogas. Quando que a Petrobras virou o centro da apuração?
Quando a operação foi deflagrada, se tratava de quatro operadores (doleiros) muito importantes, de muita capacidade financeira, com clientes em todas áreas. O Carlos Habib (Chater, já condenado a cinco anos e seis meses de prisão por tráfico de drogas), de Brasília, tinha dezenas de clientes, lavava dinheiro sujo de qualquer origem. O Raul (Henrique Sour, ainda réu) e a Nelma (Kodama, já condenada a 18 anos de prisão por lavagem de dinheiro, evasão de divisas e corrupção ativa) atendiam mais clientes em São Paulo, sendo que a Nelma se concentrava em movimentar dinheiro para o Exterior para empresas. Já o (Alberto) Youssef tem a característica de estar vinculado a grandes clientes e também a agentes públicos. Que a investigação ia caminhar para grandes estatais e agentes públicos, a gente já sabia. Só que a gente não sabia que seria tão rápido. Onde foi o salto que deu rapidez ao processo de ingresso na Petrobras? Foram as relações entre Youssef e Paulo Roberto Costa (ex-diretor de Abastecimento da estatal) que levaram a esse caminho. A gente identificou que o Youssef transacionava muito dinheiro em favor do Paulo Roberto em empresas dele (de Youssef, algumas de fachada) que eram decorrentes de contratos da Petrobras. Esse ponto foi o que jogou a investigação de cabeça na Petrobras.
Escândalo da Petrobras
"Não consigo ver o fim da operação", diz coordenador da força-tarefa da Lava-Jato
Delegado da PF, Igor Romário de Paula, que lidera investigação, afirma que foram encontrados indícios de corrupção também no Dnit, na diretoria de Óleo e Gás da estatal e no setor elétrico
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