As cenas da batalha entre forças de segurança e manifestantes na segunda-feira, em Camaquã, geraram divergência entre os envolvidos no confronto. Enquanto a Polícia Rodoviária Federal (PRF) afirma que a operação se fez necessária para desbloqueio de uma rodovia estratégica como a BR-116 e amparado por decisão judicial, a comunidade defende que não havia obstrução no trânsito no momento da ação e reclama de truculência.
"O que todo mundo viu foi a PRF e a Força Nacional aproveitando que a população estava em carreata para chegar por trás com violência, atirando gás e spray de pimenta na população", opinou um leitor na página do Facebook de Zero Hora. "Isso foi um absurdo, não havia bloqueio. Não vi caminhão nenhum atravessado na rodovia", escreveu outro.
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Palco de interrupções por parte de motoristas desde a semana passada, quando caminhoneiros foram coagidos a não seguir viagem por manifestantes, a BR-116, em Camaquã, se tornou o cenário do confronto mais intenso desde o início dos protestos no Rio Grande do Sul. Segundo o superintendente da PRF no Estado, Jerry Adriane Dias Rodrigues, a operação objetivava o retorno da normalidade ao trecho:
- O detalhe não é o tamanho da força que lá chegou, mas, sim, a dificuldade em usá-la. Vínhamos tendo problemas em Camaquã há algum tempo. O fato de ter sido reduzido naquele momento (o número de manifestantes) não era motivo para que desmobilizássemos. Se você olhar o domingo, por exemplo, praticamente não tinham mais manifestações, mas, quando chegou a noite, houve recrudecimento de algumas ações. Não podíamos permitir que aquela região estratégica para a circulação das cargas, ligando norte a sul do Estado, continuasse com bloqueios.
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Aos moradores e caminhoneiros que presenciaram a operação, ficou a sensação de emprego excessivo de força - já que, mesmo com a estrada liberada, a Força de Choque da PRF e a Força Nacional avançaram rumo ao pórtico da cidade, arremessando bombas de gás lacrimogêneo. Os manifestantes, por sua vez, responderam com pedras e rojões.
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Foto: Ronaldo Bernardi, Agência RBS
- Não estava presente no momento da operação, mas o que se ouve é que a rodovia estava liberada; Então, para quê aquela ação? - questiona o comandante da Brigada Militar de Camaquã, coronel Jorge Ricardo Ferreira. - A nossa população é bem ordeira, tanto é que, momentos antes, foi organizada uma carreata e tudo transcorreu dentro da maior paz possível - acrescenta.
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Entre os relatos de excesso, está o de um caminhoneiro que afirma ter sido agredido com spray de pimenta no rosto enquanto fumava um cigarro no pátio de um posto de combustíveis. Outra medida foi o recolhimento, por parte da PRF, de duas faixas instaladas por manifestantes - que foram parar no fogo. Já os policiais afirmam ter sido recebidos com hostilidade, à base de pedradas.
Na avaliação do consultor em segurança Carlos Alberto Portolan, a primeira medida a ser adotada em um episódio como o de Camaquã é a tentativa de negociação.
- Eles (PRF e Força Nacional) estavam cumprindo uma ordem judicial, o que não precisava era ter aquela brutalidade que ocorreu, porque não houve reação do povo contra eles. Entendo que, primeiro, deveriam negociar com os manifestantes. Pelo que vimos, não houve gerenciamento de crise, mas já chegaram dispersando com bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha - aponta.
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O superintendente da PRF garante que houveram tentativas de negociação sem sucesso durante toda a semana, e acrescenta que a corporação recebeu denúncias de apedrejamento contra caminhoneiros que queriam seguir viagem. Segundo Rodrigues, possíveis casos de excesso na operação passarão por avaliação. O jornalista Marcos Rolim relaciona o caso com a ausência, na formação policial brasileira, de se estabelecer uma conversação prévia antes de partir para o uso da força:
- O que normalmente tem se visto é que o princípio do uso progressivo da força não tem sido aplicado. A primeira providência é jogar uma bomba de gás, e, quando isso acontece, o risco de que o conflito se agrave é muito grande.
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Débora Ely
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