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O livro Aposta em Teerã - O Acordo Nuclear entre Brasil, Turquia e Irã, do ex-chanceler Luiz Felipe Lampreia (Objetiva, R$ 24,90), é a primeira tentativa abrangente de avaliação da mediação, pelo Brasil e pela Turquia, de um acordo em torno do programa nuclear iraniano, em 2010, no final do segundo mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Baseado em amplo conhecimento da matéria, o diagnóstico de Lampreia é severo: o Brasil deu aquilo que popularmente se chama de "passo maior do que a perna" ao tentar influir nas relações entre o Irã e as grandes potências. A mais gritante prova dessa tese seria, segundo o autor, a votação em favor de novas sanções no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas em julho de 2010, na qual o Brasil e a Turquia foram os únicos votos contrários (o Líbano se absteve). "A votação no Conselho de Segurança da ONU foi para nós uma humilhação, pois uma derrota de 12 a 2 é inesquecível", afirma Lampreia.
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Embora seja obra de especialista, Aposta em Teerã deixa em aberto determinadas questões que, à luz dos acontecimentos posteriores, mereceriam análise mais aprofundada. A principal é que Lampreia julga o sucesso da abordagem turco-brasileira por um duplo critério que estava muito além de seus objetivos: o de anular o programa nuclear iraniano e, assim, evitar novas sanções. Mesmo para observadores menos atentos, é evidente que, se houve fracasso nesse terreno, foi, em primeiro lugar, das grandes potências e das Nações Unidas. Depois de defender o uso da energia nuclear para fins pacíficos, nos marcos do Tratado de Não-proliferação de Armas Nucleares (TNP), a Declaração de Teerã deixava claro que "temos agora a oportunidade de começar um processo prospectivo, que criará uma atmosfera positiva, construtiva, não confrontacional, conducente a uma era de interação e cooperação". É evidente que se trata de uma política exploratória, destinada, naquele momento, a estabelecer confiança e deter uma escalada de "apostas", essas sim, inócuas. Seria difícil imaginar algo mais condizente com a tradição da diplomacia brasileira.
O mais interessante, no entanto, é que o atual estado do debate sobre a política em relação ao Irã nos Estados Unidos não apenas fez o presidente Barack Obama afirmar que as sanções não funcionaram como anunciar que vetará novas medidas punitivas eventualmente aprovadas pelo Congresso. "Faremos isso porque não consideramos as sanções um instrumento efetivo neste caso. Sanções provavelmente levarão ao sofrimento do povo do Irã e beneficiarão aqueles que, de todos os lados, não querem que o diálogo prevaleça." Com alguma diferença retórica, essas palavras da embaixadora brasileira na ONU, Maria Luiza Viotti, em 2010 poderiam ser repetidas por Obama e John Kerry em 2015.