Presidente do Sindicato Médico do RS (Simers), Paulo de Argollo Mendes defende a cobrança da chamada taxa de disponibilidade (exigida por obstetras para fazer o parto mesmo quando a gestante tem plano de saúde) como uma compensação pela defasagem da remuneração oferecida pelas operadoras dos planos. Leia trechos da entrevista:
A disponibilidade durante o parto não faz parte da profissão? Não é injusto cobrar à parte por isso?
Os planos deveriam pagar um valor suficiente pelo parto. Se não pagam, deve haver uma negociação na primeira consulta do pré-natal, deixando claro que pode atender (o pré-natal), mas o parto, pelo valor que o plano paga, ele não faz porque causa prejuízo. O médico tem de abandonar o consultório, perde dinheiro e acaba subsidiando o plano de saúde.
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Mas por que os médicos não pressionam os planos de saúde, em vez de cobrar essa diferença das gestantes?
Existe a Comissão de Negociação de Honorários, constituída por entidades médicas, que chama os planos de saúde e diz que o que estão pagando não cobre as despesas de consultório. Existe um esforço para negociar com os planos, mas se negam a pagar, e a situação fica insolúvel. Resta não atender, que é o que muitos estão fazendo em relação ao IPE, por exemplo.
A cobrança não explora um momento de fragilidade da mulher, em uma cultura em que se espera que o mesmo médico do pré-natal faça o parto?
É uma questão da confiança que se forma entre paciente e médico, em que a paciente chega ao final da gestação e diz que quer que seja com ele: prefiro pagar a taxa e ter certeza de que será contigo. É para comprar o tempo do médico. No dia do meu parto tu não faz mais nada, fica oito, 10 horas sem fazer nada, à minha disposição.
Mas cobram até para fazer cesárea...
Também...é que o valor do plano é insuficiente. O médico pode dizer que faz pré-natal pelo plano, mas que o plano não paga o suficiente para fazer o procedimento cirúrgico. Aí, quando chegar o momento, se for cesárea, será feita pelo médico plantonista, que já está ganhando para passar o dia lá dentro.