A Cidade Luz amanheceu cinza. Assim definiu o professor do curso de Jornalismo e mestrado da Universidade Federal de Santa Catarina e que está em Paris, na França, concluindo seu pós doutorado. Antônio Brasil é jornalista e está acostumado a coberturas internacionais, mesmo assim, se surpreendeu com o atentado que matou 12 pessoas, entre eles oito profissionais da área de comunicação que trabalhavam na revista satírica francesa Charlie Hebdo, alvo dos ataques por volta do meio dia de quarta-feira.
O clima é de tensão e medo relatou Brasil. Na sua percepção o rigor da policia está caindo agora sobre imigrantes - uma forma de culpar os estrangeiros, pela barbárie, sem justificativas. O jornalista define ainda o momento como delicado, e que deve ser pensado na segurança dos profissionais de comunicação.
Confira o relato do jornalista brasileiro sobre a reação na França ao ataque:
Ele relata ainda que presenciou a ação truculenta de policiais contra imigrantes, após os atentados e se mostra preocupado com o clima de pavor entre as pessoas. Acompanhe a entrevista por telefone com o jornalista que mora em um bairro de classe média, tradicionalmente de militâncias políticas e tranquilo, na cidade de Paris há quase um ano.
DC_Como está sendo o primeiro dia, depois do atentado que matou 12 pessoas?
Brasil_Muito cinza, apropriado ao momento. A gente sente o ar de tensão, as TVs, rádios o tempo todo tentando comentar o impossível. Ainda é muito cedo pra fazer qualquer estimativa de conclusão. Fui durante muitos anos jornalista e fotógrafo e aprendi a observar, percebi no olhar das pessoas um certo ódio pelo imigrante.
DC_Como está sendo para o senhor, como brasileiro e jornalista viver neste momento tão complicado em Paris?
Brasil_Completamos 24h do atentado e estamos assustados. Sempre trabalhei em outros países e é assustador ver essa radicalização. Quando um jornalista passa a ser alvo do que escreveu, quando as pessoas passam a achar que tem o direito de matar um jornalista? É um momento extremamente delicado e é a hora para pensarmos na nossa própria segurança. O jornalista independente passa a ser um alvo internacional e uma espécie ameaçada.
DC_O senhor falou que presenciou uma ação agressiva da polícia, como foi?
Brasil_Ontem à noite (quarta-feira) sai para dar uma volta e observar a situação, comprar os jornais. A rua onde moro, rua do 13eme, é pequena. Vi quando três policiais grandes fortes e brancos revistavam de forma muito agressiva, quatro garotos, entre 17 e 18 anos, com "cara" de estrangeiros. Eles empurravam os "imigrantes" que estavam muito assustados. Não pude obviamente fotografar ou mesmo ficar ali observando, mas a gente sente essa estigmatização querendo achar culpados: os imigrantes são os culpados. A violência aqui não é normal, aqui não estamos acostumados a tratar as pessoas assim.
DC_O que mais o senhor notou? A rotina está normal, as crianças estão indo para a escola? A vida segue?
Brasil_Hoje houve um minuto de silêncio. Foi algo nacional muito forte, as pessoas pararam onde estavam, assim como os ônibus e as estações de metrô. Estamos em alerta de segurança máxima, automóveis são checados e proibidos de estacionar próximos a locais públicos. A maioria das escolas está aberta, mas muitos pais não mandaram os filhos. Está um dia chuvoso, muito frio, triste e as pessoas em estado de choque. 12 pessoas foram mortas em Paris, considerada a Capital mais segura. Você vê o medo nos rostos das pessoas.
DC_Onde o senhor estava na hora do acidente?
Brasil_Estava voltando do aeroporto onde fui levar minha filha, que mora em São Francisco. A cidade estava estranha, os trens atrasados. Como estou sempre conectado, vi pelo celular e logo entendi que algo sério estava acontecendo. Voltei para casa onde estou preparando uma série de artigos sobre o fato a ser publicado.
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Vídeo
Um vídeo feito com uma câmera amadora mostra o momento em que os terroristas executaram um policial a tiros durante o ataque.
As imagens são fortes.
Charlie Hebdo é uma revista satírica semanal conhecida pelo envolvimento em polêmicas. Um dos seus últimos tweets foi uma charge do líder do Estado Islâmico, Abu Bakr al-Baghdadi. Este não foi o primeiro atentado no local. Em 2011, a sede foi incendiada após a publicação de charge sobre o profeta Maomé.
Al-Baghdadi representado em charge recente da revista
Confira imagens do local do atentado: