Dois dos quatro servidores afastados por suspeita de irregularidade em recebimento de bolsas na Universidade Federal de Pelotas (UFPel) também receberam bolsa na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Um deles é o ex-presidente das fundações de apoio da UFPel, Cristiano Guedes Pinheiro, que ganhou mais de R$ 40 mil das fundações que ele próprio administrava. Ele é doutorando em educação e ganhou verba na UFPel para projetos de vitivinicultura e inspeção agropecuária. Agora, sabe-se que, em 2013, ele também ganhou R$ 7,4 mil de um projeto administrado pela Fundação de Amparo à Pesquisa e Extensão Universitária, a fundação de apoio da UFSC.
Esse último projeto é sobre populações removidas por hidrelétricas na divisa de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O coordenador do estudo é Hemerson Luiz Pase. Hemerson era assessor do reitor e havia recebido R$ 36 mil para projetos na UFPel em 2013 e, no mesmo ano, ganhou R$ 45,6 mil na UFSC. Os valores somados estariam acima do permitido pela lei, que delimita um máximo mensal, em bolsas, de metade do salário.
Outra beneficiada com o estudo em Santa Catarina é a ex-namorada de Hemerson, Isis Oliveira Bastos Matos. Apesar do currículo dela dizer que é uma pesquisadora “voluntária”, ela ganhou, em 2012, R$ 14,4 mil e, em 2013, R$ 21,6 mil.
Contraponto
Contatados pela reportagem, Isis disse que constar “voluntária” no currículo dela foi um erro, ela admite ter recebido o dinheiro. E defende que não é anti-ético se relacionar com o coordenador da pesquisa, já que eles teriam começado o relacionamento depois da entrada dela no estudo.
Hemerson disse que agiu dentro da legalidade.
E Cristiano, que, para outras matérias, disse que atuou como coordenador pedagógico de projetos da área agrícola, não retornou os contatos sobre qual função poderia ter atuado no trabalho sobre hidrelétrica, sendo um doutorando em educação.
Lembre do caso
A concessão de bolsas dentro da UFPel começou a ser investigada pelo Ministério Público Federal (MPF), depois de uma auditoria interna apontar que pessoas próximas ao reitor Mauro Del Pino estavam recebendo bolsas de estudo que sequer eram divulgadas na universidade. Foi constado que pessoas sem aparente conhecimento estavam recebendo valores das pesquisas — como um servente de limpeza que recebeu R$ 12 mil para estudar vitivinicultura. Também foi constatado casos de professores que recebiam, em salário e bolsas, mais do que um ministro do Supremo Tribunal Federal. O MPF já adiantou que irá pedir devolução de dinheiro de parte das bolsas.