Álvaro Andrade
Enviado especial ao norte do Estado
Enquanto milhares de pessoas acompanhavam Julio César defender pênaltis e garantir a classificação do Brasil contra o Chile, dezenas de pessoas indiferentes ao que acontecia em Belo Horizonte carregavam caixas e móveis em caminhões do Exército e da Defesa Civil na tarde deste sábado (28) em Porto Mauá, pequena cidade do noroeste gaúcho que foi invadida pelas águas do rio Uruguai. Se para a maioria do país a atenção estava voltada para a Copa do Mundo, moradores de municípios da fronteira com a Argentina estão de olho no nível da água de um rio que ficou ainda maior - e mais assustador.
Cerca de 80 famílias foram afetadas no município, mas a maioria foi para a casa de familiares ou amigos. Apenas cinco famílias carentes estão alojadas em escolas. "A água subiu rápido e não consegui salvar tudo", lamentou Maria Janete Gonçalves, enquanto tentava acalmar o neto Lucas, de quatro anos. Ele chorava pois queria ajudar os pais na remoção dos pertences que ficaram na água.
Os prédios da prefeitura e Câmara de Vereadores estão alagados; já o escritório da aduna da fronteira com a Argentina está de três metros debaixo d'água. A antena de internet em meio a água barrenta foi a única pista que sobrou do prédio da delegacia de polícia, totalmente encoberta pela inundação. O comércio foi evacuado e uma força-tarefa ainda retirava produtos das lojas nesta tarde. Parte da cidade está sem luz.
Mais de 30 anos depois, municípios às margens do rio Uruguai revivem o drama de uma grande inundação. O nível das águas estabilizou neste sábado antes de bater a marca de 1983, mas somente a enchente ocorria há mais de três décadas é parâmetro para a calamidade que assola milhares de pessoas nas regiões norte e Noroeste do Rio Grande do Sul. A madrugada deste domingo será de vigília e trabalho na remoção de famílias e pertences, já que autoridades acreditam que o rio voltará a subir nas próximas horas.
Caminhões e jipes dos Regimentos de Cavalaria Motorizada e Blindada de Santa Rosa e São Luiz Gonzaga auxiliam a Defesa Civil dos municípios da região. Em Porto Xavier já são mais de 400 famílias fora de casa. Na área rural comunidades estão isoladas pela interrupção de acessos. A preocupação aumenta, já que a chuva segue na região.