Buracos, rachaduras, crateras e interdições em estradas que mais parecem longas e estreitas fatias de queijo suíço. Silenciosamente, várias vias intermunicipais pedem socorro. Segundo especialistas, as condições das rodovias gaúchas após as chuvas do fim de agosto - que levaram o governo a decretar emergência em trechos da ERS-020 e da VRS-826 - revelam a falta de manutenção rotineira e preventiva.
O Departamento Autônomo de Estradas de Rodagens (Daer) admite que o trabalho de conservação é feito com dificuldade. De janeiro a maio, parte da malha ficou sem este serviço devido a impasses na repactuação de contratos.
- São 12 mil quilômetros de rodovias. Temos dificuldades operacionais que estamos tentando resolver e encontrar a melhor maneira de atender às demandas. Obviamente que, quando há um período crítico de chuva intensa, isso aí se agrava - afirma o diretor de Infraestrutura Rodoviária da autarquia, Laércio Toralles Pinto da Silva.
Os reparos emergenciais nos pontos críticos (quilômetro 57 da ERS-020 e entre os quilômetros 3,2 e 5,3 da VRS-826) podem custar até R$ 700 mil, verba que sairá do próprio orçamento do Daer. A expectativa é iniciar as obras até o fim do mês e sejam concluídas em até 180 dias.
- Recuperação se faz em época de seca. Agora, a obra vai custar caro, ficar malfeita e demorar mais, mas, lamentavelmente, isso tem de ser feito, senão vai morrer gente. Infelizmente, o governo acordou tarde - diz o engenheiro civil e professor da Universidade de Brasília (UnB), Dickran Berberian.
"Asfalto político" não é resistente
Má execução e fiscalização, uso de materiais inadequados, falta de manutenção, chuvas em demasia e excesso de carga são fatores que, segundo o professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) João Albano aceleram a deterioração do asfalto:
- O Daer não tem balança para controlar excesso de cargas, e algumas estradas não têm manutenção adequada.
Berberian, da UnB, diz que, com projeto bem executado e cálculo de tráfego adequado, a durabilidade de uma pavimentação poderia chegar a 20 anos em média. Porém, afirma, isso muitas vezes não ocorre em razão da "indústria da recuperação" e do "asfalto político", feito às pressas para conquistar votos.
Medida dispensa licitação para conserto de rodovias
Os decretos de emergência que atingem a ERS-020 e a VRS-826 visam a acelerar o conserto, impedindo o avanço dos estragos. Com a medida, a contratação de reparos será feita por tomada de preço, dispensando licitação. As empresas serão convidadas a apresentar proposta, e a vencedora será a que oferecer o menor preço.
O Daer ainda estuda a possibilidade de incluir na medida a ponte sobre o rio dos Sinos, na ERS-020. Após vistoria, o tráfego de veículos leves e ônibus no local foi liberado em meia pista, sem previsão para normalização.
Para o presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística do Rio Grande do Sul (Setcergs), Sérgio Neto, ações que buscam acelerar a restauração da malha viária são importantes. No entanto, pondera Neto, existem outros pontos críticos que também deveriam ser enquadrados como prioridades.
- O custo de manutenção do transporte aumenta e os riscos, também. O governo não tem recursos suficientes para atender a todas as necessidades e, além disso, falta um planejamento adequado para conservação de rodovias - critica o dirigente.
Desde a semana passada, as 17 superintendências regionais do órgão realizam operação tapa-buracos para sanar os danos agravados pelas chuvas nos 7 mil quilômetros de rodovias pavimentadas no Estado. Na segunda-feira, na ERS-122, em Caxias do Sul, uma cratera aberta pelas chuvas deixou uma mulher ferida.
