O folheto confeccionado para o 19º Grito dos Excluídos apresenta como slogan: "Expressar e participar: direito e liberdade".
Mas essa liberdade só vale para protestar por determinadas causas: um estudante de 18 anos que participava das manifestações em Porto Alegre, na manhã deste Sete de Setembro, foi expulso do movimento por estar distribuindo placas contra a corrupção.
Afirmando que se tratava de uma pauta da oposição, inserida por "infiltrados" e "coxinhas", representantes de sindicatos como a CUT rechaçaram a distribuição dos materiais independentes, insistindo que o foco na mobilização era outro - lutar pela "democratização da comunicação" e pela "reforma política".
A divergência começou antes mesmo da saída dos manifestantes do Largo Glênio Peres. Ao ver uma série de placas pintadas em verde e amarelo com a frase "Fim da Corrupção, + Saúde", um representante da CUT foi ao microfone para condená-las, pedindo a seus apoiadores para ignorá-las e convidando os apoiadores das "placas" a se afastar do grupo.
No meio do caminho, a tensão aumentou quando o grupo cruzou com o estudante de engenharia Matheus Caetano, 18 anos, que estava distribuindo as peças. Pelo menos quatro pessoas o cercaram, pedindo para que se afastasse do grupo e interrompesse a entrega de seu material, acusando-o de ser "de direita" e do "PSDB" por causa das placas que carregava.
O estudante se afastou dos manifestantes, mas fez questão de continuar a distribuição entre o público que assistia aos desfiles.
- É um direito. Agora eles vão vir me agredir porque eu estou distribuindo plaquinhas? Plaquinhas que não têm nenhum partido por trás... Fui expulso por tentar mudar o país... Não tem porque eu parar de fazer algo para mudar o país - desabafou o jovem, universitário da PUC.
Perto dele estava o avô Sérgio Ribeiro, 76 anos, que é proprietário de uma empresa de plásticos em Gravataí. Ribeiro garante que foi dele a ideia de confeccionar as placas, num total de mil peças, feitas com sobras de materiais da empresa. E até a pintura das placas foi feita em família, durante horários de folgas, ao longo de dois meses.
- Eu acho que cada um tem que fazer o seu pedaço, e é isso que eu quero fazer. Pra não dizer que nunca tive partido, quando tinha 18 anos me filiei ao PL, mas logo me desiludi e saí - disse.
Presidente da CUTRS e um dos coordenadores do grito dos Excluídos, Claudir Néspolo disse que o movimento criticou as placas contra a corrupção por ter identificado "um grupo tentando pegar carona" no movimento. A atividade de ontem foi promovida por organizações como Via Campesina, CUT, CTB, Movimento dos Trabalhadores Desempregados e Pastorais Sociais da Igreja Católica.
- A gente não sabe quem está por trás, mas não eram bandeiras dos movimentos que organizaram o grupo. A gente solicitou que eles se organizassem no seu coletivo e se manifestassem, como deve ser numa democracia, mas com o grupo deles. Quem mandou fazer aquelas placas têm interesses partidários, querem disputar um outro projeto para o Brasil. Nós respeitamos, mas cada um no seu grupo - justificou.
Para seu Ribeiro, a explicação para uma reação tão ostensiva às placas que sua família confeccionou e distribuiu é outra.
- Acho que as pessoas querem continuar com a corrupção... isso é uma vergonha. Eu tenho vergonha na cara.
E vou continuar participando dos protestos - assegurou.