ENTREVISTA - Manira Bullos, amiga da família
Quando soube do desaparecimento de Amarildo, a estudante de Direito Manira Bullos, 30 anos, logo ofereceu ajuda a Bete, mulher do pedreiro, de quem foi vizinha durante oito anos. Há dois meses, com um emprego melhor e fazendo o trabalho de conclusão de curso, Manira deixou de morar na comunidade, mas resolveu se unir à família no momento em que o caso de Amarildo tem servido para questionar a ação das UPPs nas favelas. Veja a seguir trechos da entrevista concedida ontem, por telefone, a ZH:
Zero Hora - É verdade que Amarildo já tinha sido ameaçado pela polícia?
Manira Bullos - O filho dele já tinha sido preso, tinham forjado um flagrante. Próximo à casa deles tinha venda de drogas, mas isso é um problema que todas as comunidades estão sofrendo. É como a UPP trata o morador. Onde tem câmera, todo mundo trata todo mundo bem, mas dentro do beco é diferente. Eles estão vivendo uma ditadura militar. A polícia acabou com bailes, com pagode, não pode ficar sentado conversando na rua. Tem de acabar com essa história da UPP tratar mal. Tenho certeza de que se fosse um traficante, se o cara tivesse feito uma coisa errada, ninguém estaria fazendo alarde, só que é público e notório que o cara era trabalhador. E quantas pessoas já sumiram até hoje sem explicação? A polícia está acostumada a fazer isso com morador da favela e ninguém falar nada, só que a gente está vivendo um momento no país em que o povo está colocando a boca no trombone.
ZH - Por isso gerou tantos protestos?
Manira - Graças a Deus ganhou essa repercussão toda para ver se a história muda. Tomara que esse caso do Amarildo seja uma virada para a polícia não chegar lá, fazer o que quer e ficar na impunidade.
ZH - O que vocês esperam da investigação?
Manira - O que a gente quer é uma resposta da polícia, porque se levaram ele (Amarildo), ela tem de dar conta de onde o cara está. O que a Bete mais quer é enterrar o marido. Ela está participando dos protestos, dando depoimentos, mas está sofrendo com tudo isso.