Há uma bronca dos passageiros da linha Colina-Fátima com a empresa Guaíba: a tarifa, de R$ 4,20, é muito cara para a qualidade do serviço prestado, avaliam os usuários, cujo perfil é de baixa renda. É assim, dizem, porque não existe concorrência.
Do contrário, o preço seria menor, haveria mais ônibus e espaço para todos sentarem. Porque sentar é o que todos querem durante a viagem de quase uma hora, especialmente Vivian Silva de Castro Ribeiro, 39 anos, que não pode ficar em pé por mais de 15 minutos.
A auxiliar de nutrição do Hospital Mãe de Deus caiu de uma escada, em 2011, e rompeu o tendão de aquiles da perna direita. Seria mais fácil conseguir um banco se ela pegasse o ônibus no terminal, mas a estação não fica no Centro, perto de casa, e sim no bairro Fátima. E ninguém cede lugar a Vivian.
- Me sinto humilhada - lamenta.
O ônibus partira do terminal do bairro Fátima às 6h. Quinze minutos antes, tinham chegado seis coletivos de linhas abastecedoras, que largaram dezenas de pessoas na estação. Passageiros contam que, antes da criação das linhas coletoras nos bairros, em 2006, o serviço da Guaíba era melhor, com mais horários e lotação menor. Mascando um palito de dentes, o auxiliar de transporte Jorge Fontoura, 61 anos, acordara às 4h para ser o primeiro a embarcar. O conforto de sentar serve como um contrapeso ao gasto mensal de R$ 220 que ele tem com o transporte, uma mordida e tanto no seu salário de R$ 840.
- Vai de catamarã quem tem dinheiro no bolso - comentou, sobre a alternativa da embarcação que liga Guaíba à Capital, com tarifa de R$ 7,25.
- Oi, tudo bem? - cumprimentou a cozinheira Maria Beatriz Schuhl Ribeiro, 50 anos, ao subir no ônibus por volta das 6h10min.
- Vai em pé? - perguntou a aposentada Eva Mattos, 65 anos, sentada em um dos primeiros bancos.
A resposta de Maria Beatriz foi colocar a bolsa no colo da amiga. Em torno, jovens nos bancos da frente ouviam música. Conversas no coletivo abordavam o drama dos idosos.
Fontoura: "Não tem mais essa de jovem dar lugar a velho."
Ernani Pacheco, 67 anos: "Os bancos para idosos são só conversa."
A gurizada permaneceu imóvel nos assentos da frente. Quando o ônibus estacionou às 6h47min no fim da linha, na Rua Carlos Chagas, na Capital, rapazes, moças, crianças e idosos partiram para vencer mais um dia, outra vez.
Ficha técnica
> Linha: Colina-Fátima
> Empresa: Guaíba
> Horários diários: 139
> Ônibus: 18
> Usuários: 4 mil por dia
A avaliação do repórter
> Limpeza - Vestígios de terra e pó no chão, mas nada grave. 7
> Espera - Horários cumpridos, mas algumas pessoas relatam demora. 7
> Lotação - Há disputa por bancos, e os idosos acabam sendo os mais prejudicados. 3
> Conduta - Usuários criticaram o motorista por ir muito devagar. Cobrador não seguiu orientação da empresa para solicitar banco para idosos em pé. 4
> Segurança - Passageiros disseram que, recentemente, três homens recém-saídos da prisão exigiram viagem gratuita. 5
A avaliação dos usuários
Melina Gonçalves, 29 anos, fisioterapeuta
> Limpeza - 6
> Espera - 6
> Lotação - 3
> Conduta - 5
> Segurança - 6
"Os carros não têm manutenção, semana passada andei em ônibus em que as janelas não abriam, e já andei tanto em ônibus antigos quanto em mais novos."
João Derly Vargas Lopes, 46 anos, frentista
> Limpeza - 7
> Espera - 8
> Lotação - 0
> Conduta - 10
> Segurança - 5
"A situação é precária. Antigamente, os ônibus quebravam muito."
CONTRAPONTO
O que diz o gerente de operações da empresa Guaíba, Flavio Piccoli:
"A causa do preço não é por ser a única empresa que faz o serviço no município. O valor da tarifa foi aprovado pela Agergs, era para ser R$ 4,95 e fechou em R$ 4,20. O foco principal, hoje, é tentar reduzir a tarifa, como ocorreu em outros municípios. Este ano, não houve reajuste. Dá para tirar ICMS do combustível e do pneu, alguém tem de subsidiar o transporte. O terminal foi criado no bairro Fátima porque é estratégico para a empresa, perto das rodovias federais, também porque no Centro não há mais áreas. Acompanhamos a média de lotação e colocamos ou retiramos veículos na rua com base nos dados. Quanto aos idosos, os cobradores são orientados a solicitar se alguém pode ceder o lugar, mas não temos poder de polícia para tirar a pessoa. Vai da educação do povo."