Ele é transversal, ele cruza bairros importantes de Porto Alegre, ele carrega universitários, médicos, comerciantes e viajantes que chegaram de avião ao Salgado Filho. Mas ele, o ônibus da linha T5, apresenta muitos incômodos para os usuários.
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O frio maltratava a fila formada na parada ao lado da Estação Aeroporto da Trensurb quando, às 7h22min de ontem, do meio do nevoeiro que fechou o aeroporto, surgiu o T5. Até a porta tudo bem, a imagem das linhas transversais é, digamos, razoável em Porto Alegre. A situação começa a ficar estranha quando, perguntado sobre a hora de partida, o motorista fala:
- Sete e vinte e sete.
Na tabela no site da Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC), é 7h31min. Pensei se o motorista não estaria falando do horário anterior, 7h24min. Ou ele estaria atrasado quatro minutos ou adiantado três minutos. Ou se enganara. Enfim, depois que se conversa com os usuários, percebe-se que aquela pequena divergência de números é a ponta da série de incômodos que virou cantilena na boca do pessoal.
- Ele não cumpre o horário - repetiu, mais de uma vez, Morgana Penna de Moraes e Souza, 51 anos, que é supervisora no Hospital Ernesto Dornelles.
O ônibus partiu dois minutos antes das 7h27min, com todos os passageiros sentados e até sobrando cinco bancos na parte da frente, antes da catraca. Começou então uma série de desabafos sobre a impossibilidade de pegar o T5 na hora marcada na tabela, com efeitos como um ônibus seguir logo atrás do outro ou ficar tão para trás a ponto de parecer ter desaparecido. Os usuários pareciam ter um pedaço do iceberg de incômodos entalado na garganta. Queriam falar e falar.
- Ele não cumpre o horário - disse alguém, de novo.
O transversal tem fama de bom, só que as pessoas não acham isso depois de usá-lo. E não é só pelo descompasso nos horários, porque às 7h40min o coletivo lotou total na esquina das avenidas Cristóvão Colombo e Benjamin Constant. Foi impressionante. Porém aquilo também era um simulacro da realidade, já que os passageiros insistiam que estava ok, que tinha dias piores, quando gente podia "sair pela claraboia". E uns até consideraram que o T8 é mais problemático, que o T5 pelo menos é mais rápido.
- Levei maquete no T5 lotado e estragou. Tive que montar de novo - lembrou a estudante de Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Ana Mantovani, 22 anos.
Eis então que, sob o cenário da Confeitaria Maomé distorcido através das janelas embaçadas pelo calor interno, o ônibus parou e vomitou gente pela porta. De barriga quase vazia, chegou ao final da linha, perto da Praça Itália, onde um solitário passageiro desceu depois de ouvir da cobradora: "Última parada!"
Ficha técnica
- Linha: T5
- Empresa: Carris
- Horários diários: 251 (durante a semana)
- Ônibus: 19
- Usuários: 14.807 em dias úteis (números de junho de 2013)
A avaliação do repórter
- Limpeza: Focos de terra e pó nas portas, mas nada que impeça a classificação do ônibus como limpo. 7
- Espera: Chegada do ônibus ao ponto inicial perto do aeroporto foi rápida, mas há relatos de demora em paradas. 7
- Lotação: Uma viagem que parecia tranquila ganhou indícios de claustrofobia na Avenida Cristóvão Colombo. 4
- Conduta: Meio mal-humorados o motorista e a cobradora, de início, mas estavam sorridentes no final da linha. 7
- Segurança: Circulam comentários sobre assaltos na linha, o que deixa os passageiros em alerta. 5
Internautas avaliam condições da linha T5
(Usuários podem avaliar o ônibus que utilizam aqui.)
Marcelo Billes
- Limpeza. 7
- Espera. 1
- Lotação. 1
- Conduta. 9
- Segurança. 6
"Péssimo serviço. O horário de circulação é descoordenado. Chegam a passar três, quatro, até cinco ônibus juntos, com intervalos de até 40, 50 minutos na hora do rush. Invariavelmente superlotados devido a essa descoordenação, o que demonstra incapacidade da empresa em gerir os horários de saída dos terminais."
Clarissa Selbach
- Limpeza. 7
- Espera. 1
- Lotação. 2
- Conduta. 6
- Segurança. 3
"Linhas como T5 e T7 estão sempre atrasadas e, quando chegam, os ônibus estão superlotados! Há, ainda, registro de furtos dentro dos ônibus. Motoristas e cobradores já conhecem os 'furtadores' e comentam sobre o fato normalmente."
CONTRAPONTOS
O que diz o diretor técnico da Carris, Cirilo Faé
"Somos fiscalizados pela EPTC. Se eu não largar veículos nos horários estipulados, sofremos sanções. Trabalhamos em cima de horários de tabela. Esses atrasos que a gente tem acompanhado junto à EPTC são devido às obras em andamento para a Copa. Não é por falta de veículos, por deixar de liberá-los. Quanto à superlotação, ela se dá em determinados horários. São os horários de pico, principalmente das 6h às 8h e das 18h às 20h. As linhas Ts, hoje, são as mais procuradas porque não fazem os trajetos radiais, e sim transversais. Não tem como partir da empresa largar mais carros. O intervalo em que são largados é de oito em oito minutos. Se a EPTC entender que deve ser reduzido o intervalo, nos adequaremos."
O que diz a Empresa Pública de Transporte e Circulação (EPTC)
A EPTC informa que é responsável pelo planejamento e fiscalização das linhas da Capital. Sobre a T5, nossos relatórios de monitoramento demonstram equilíbrio entre a oferta de viagens e a demanda de usuários. Entretanto, o itinerário está passando, nos últimos meses, por duas obras de grande porte (corredor BRT João Pessoa/Azenha e trincheira da Ceará com Farrapos; antes havia o BRT da Osvaldo Aranha, recentemente liberado), acarretando em prejuízos pontuais à operação da linha.