Como bem sabemos, Porto Alegre viveu dias de debates acalorados acerca do corte de árvores nas proximidades do Gasômetro, pré-requisito para a duplicação da Avenida Beira-Rio - uma obra consagrada nas urnas, como dá a entender uma reeleição em primeiro turno.
Pois as árvores estão no chão, os protestos continuam de pé, mas bom, mesmo, será se a conversa se desgarrar do dualismo progresso/natureza e chegar ao cerne do problema.
Atraso.
Não falamos, aqui, dos intermináveis prazos das obras da prefeitura ou do comportamento de ativistas de rua ou de apartamento. Seria até melhor se assim fosse. Porque Porto Alegre paga o preço, hoje, da falta de visão dos responsáveis pelos rumos da Capital nos últimos 20, 30, 50 anos. Guiaram-na de lado.
Basta tomar como exemplo o prometido metrô. Nem vamos entrar no mérito dos caríssimos modelos de escavação - atrelados a transtornos no dia a dia -, muito menos falar sobre rotas insuficientes. Melhor aplicar os neurônios em um exercício sobre como ficariam Porto Alegre e seu trânsito se, em algum momento do passado, um prefeito resolvesse assinar um contrato, garimpar vontade política e tirar o metrô do imaginário popular.
Primeira vantagem: obra em uma cidade menor, com menos gente, carros, distúrbios e custos aos cofres públicos. Em segundo lugar, provavelmente não estaríamos discutindo cortes de árvores. Servida por um bom metrô, Porto Alegre veria menos veículos nas ruas e diminuiria, por lógica, a necessidade de expansão de vias. Até porque os turistas da Copa rumariam ao novo Beira-Rio acomodados em ônibus ou em vagões, dada a notória dificuldade de se atravessar um oceano no volante de um automóvel.
Ou seja, os visitantes - a obra é da Copa, não esqueçam - apelariam ao transporte público, como ocorre na Europa. Mesmo lugar, aliás, onde uma avenida virou um parque (Madri) e a faixa dupla que serpenteia a margem direita do Rio Sena (Paris) cede nacos quilométricos para pedestres e ciclistas. Acredite, um projeto de 40 milhões de euros da prefeitura, aprovado em 2012, dá aos parisienses asfalto combinado a passeios públicos, jardins botânicos flutuantes, quadras esportivas e restaurantes.
Em uma hipotética comparação dos casos acima com Porto Alegre, qualquer semelhança seria, de fato, mera coincidência.