Que vitória histórica do Grêmio! Foi criada na quarta-feira no Engenhão uma jogada que se repetiu por seis vezes e que vai se revelar mortífera para os adversários do Grêmio. Barcos faz o penúltimo toque e o último sempre é de Vargas.
Que partida do André Santos. Ele é mesmo de Seleção Brasileira. E que segurança nos inspira Dida no gol.
Grêmio fantástico.
Ia me esquecendo: Fernando foi a maior figura da partida.
*
Muita gente tem a audácia de achar e referir que Noel Rosa foi muito mais gênio do que é Chico Buarque de Holanda.
Mas, observando bem a obra de Noel Rosa, não são tão audaciosos assim os que o põem à frente de Chico Buarque na galeria dos nossos gênios.
Reparem bem se essas pessoas têm razão, mas reparem, leiam e releiam esses versos de um samba célebre de Noel que transcrevo abaixo.
Notem principalmente a simplicidade da sua beleza:
O orvalho vem caindo,
Vai molhar o meu chapéu.
E aos poucos vão surgindo
As estrelas lá no céu.
Tenho passado tão mal,
A minha cama é uma folha de jornal.
O meu lençol é um lindo céu de anil
E o meu despertador é um guarda-civil
Que o salário ainda não viu...
* * *
Eu próprio, por vezes, acho que Chico Buarque é maior do que Noel Rosa o foi.
Por sinal, nós temos o defeito de sempre querer saber quem foi o maior, o mais genial, o mais célebre.
É uma bobagem nossa. Quase sempre, quando se traça o paralelo entre duas pessoas ilustres, queremos saber qual delas foi ou é melhor do que a outra.
Bobagem, as duas são grandes, mas estranhamente queremos destacar quem foi a melhor.
* * *
A obra de Chico Buarque é muito conhecida. Afinal, ele é nosso contemporâneo.
Já a obra de Noel, apesar de alguns grandes sucessos que se conhece, ficou mais distante no passado.
* * *
Eu hoje estou para fazer um reconhecimento a Noel. Quero transcrever abaixo a primeira parte de um samba antológico de Noel, Conversa de Botequim. Notem como é brasileiro o texto dos seus versos, como são apaixonantemente apropriados à sabedoria e à expressão populares esses versos inesquecíveis daquele que para mim é o mais genial samba de Noel (de novo o mais):
Seu garçom, faça o favor
De me trazer depressa
Uma boa média
Que não seja requentada,
Um pão bem quente
Com manteiga à beça,
Um guardanapo,
Um copo dágua,
Bem gelada.
Feche a porta da direita
Com muito cuidado
Que eu não estou disposto
A ficar exposto ao sol,
Vá perguntar ao seu freguês do lado
Qual foi o resultado do futebol.
* * *
Que coisa linda e insuperável o que vocês acabaram de ler! E pensar que Noel Rosa morreu com 26 anos de idade, enquanto Chico Buarque está no caminho dos 70 anos...
Opinião
Paulo Sant'Ana: "Chico e Noel"
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