A cidade que atribui a si mesma o título de Capital Nacional do Voo Livre vive um polêmica envolvendo os praticantes do esporte. Uma rede elétrica de alta voltagem instalada na cabeceira do campo de pouso de Sapiranga, no Vale do Sinos, coloca em risco os mais de 300 atletas que costumam saltar do Morro Ferrabraz.
O problema é fruto do crescimento do esporte. A rede da AES Sul estaria no local há cerca de duas décadas, mas o problema se intensificou nos últimos anos. Nesse período, Sapiranga se consolidou como uma referência no esporte, atraindo praticantes de todo o Brasil e da América do Sul. A Associação Gaúcha de Voo Livre, uma das mais bem estruturadas do país, tem sede no município.
- Nos últimos anos, o campo tem estado lotado. Os equipamentos mais modernos ganharam em velocidade, e o espaço necessário para pousar agora precisa ser maior. A rede é um risco para quem pratica o esporte - explica o engenheiro, e representante dos pilotos, Eduardo Henrique Dias.
O esporte vem se desenvolvendo em Sapiranga desde a década de 1970 e já formou atletas reconhecidos, como o atual campeão brasileiro de asa delta, André Wolf. Com seis títulos nacionais da categoria - três deles vencidos de forma consecutiva - Wolf deu os primeiros saltos em Sapiranga, e costuma treinar no local.
- Convivemos com esse risco há bastante tempo. Até hoje não aconteceu nada grave, mas existe uma grande possibilidade de um acidente no local - lembra o atleta.
São cerca de 400 metros da rede que abastece as residências do bairro Amaral Ribeiro. O risco aos pilotos é no momento do pouso. A aproximação para a descida pode ser feita por dois lados do campo, de acordo com o vento. Se a descida tiver de ser feita pelo lado onde fica a rede elétrica, o piloto pode ficar a cerca de oito metros da rede.
- Existe a possibilidade de uma turbulência jogar o piloto dobre o fios. A rede já é conhecida como fritadeira, e faz com que muitos deixem de saltar se o vento indicar a descida por aquele lado - explica Dias.
Ministério Público e prefeitura acompanham o caso
Os pilotos afirmam que procuraram a prefeitura e o Ministério Público pedindo ajuda para resolver o impasse. O prefeito de Sapiranga, Nelson Spolaor, não quis falar sobre o assunto, mas afirmou por meio da assessoria de imprensa que pretende auxiliar na mediação entre os pilotos e a AES Sul.
O Ministério Público de Sapiranga instaurou um procedimento administrativo para acompanhar o caso no dia 21 de setembro. De acordo com a promotora, Mariana de Azambuja Pires, uma reunião entre as partes está agendada para o dia 12 deste mês.
- Precisamos entender como se deu a autorização para a instalação da rede. Se o município já havia regulamentado a prática de voo livre no local, não poderia ter autorizado que uma rede elétrica fosse colocada - explica a promotora.
Questionada pelo MP, a AES Sul afirmou em ofício que o custo de uma eventual mudança na rede deve ser custeado pelos pilotos. No documento, datado de 11 de outubro, a empresa alerta que o local de pouso não é adequado pela proximidade da rede, gerando risco de acidentes.
- A Lei em que a AES Sul se baseia para alegar que nós devemos pagar pela obra não se aplica a esse caso. A estrutura deles é, sim, um risco de vida para a comunidade, e por isso cabe a empresa resolver o problema - afirma o representante dos pilotos.
O que diz a AES Sul
A AES Sul explica que a linha existente no local é fundamental para o fornecimento aos clientes. Através de uma nota, a empresa afirma que tem prestado esclarecimentos da situação ao Ministério Público.
- Essa linha está instalada ao longo da estrada, dentro dos padrões técnicos e em pleno funcionamento. Toda e qualquer obra de interesse particular deve ser custeada pelo interessado, conforme determina a legislação do setor elétrico - diz a nota.
Voo ameaçado
Rede elétrica coloca em risco praticantes de voo livre em Sapiranga
Mais de 300 atletas que costumam saltar do Morro Ferrabraz correm risco de morte por causa dos fios
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