Enquanto entidades médicas e o Ministério Público cobravam autoridades de saúde pública, Rafael Moreira sepultava os filhos Alerrando e Aleksander na sexta-feira, em Piratini. Os gêmeos prematuros morreram três dias após atendimento em um berçário improvisado em Canguçu.
Pouco depois de enterrar os filhos e sem a presença da mulher, Andrizi, que segue internada em Canguçu, Moreira conversou com Zero Hora sobre a morte dos dois meninos.
Zero Hora - O senhor acredita que seus filhos poderiam ter sobrevivido se tivessem o atendimento adequado desde o nascimento?
Rafael Moreira - Tudo poderia ser diferente. Se quando os meus filhos nasceram tivessem sido internados direto em uma UTI neonatal poderia ser que eu estivesse voltando para casa com eles nos braços e não em caixões. O governo investe em tantas outras coisas e a saúde, que é o nosso bem maior, está tão precária - hoje (ontem) nós e os meus filhos fomos vítimas do descaso.
ZH - Como você recebeu a notícia da morte dos bebês?
Moreira - Fazia duas horas que eu tinha saído do hospital quando recebi a notícia da morte do primeiro bebê. Quando estava chegando a Piratini, para velar o meu filho, veio mais um telefonema, o outro também não conseguiu resistir. A minha mulher, que continua se recuperando do parto, viu os meninos uma só vez e precisou ser medicada quando soube que não terá uma outra chance. Sabe o que eu fico me perguntando? Por que durante 10 dias a resposta que nos davam é de que não havia leitos e quando eu procurei a Justiça esses dois leitos tão esperados apareceram em menos de 24 horas? Isso me faz acreditar que existiam meios para conseguir essas vagas antes. Estou analisando a possibilidade de entrar com uma ação judicial contra o Estado porque, nesse caso, eles podem ter sido responsáveis pela morte dos meus filhos.
ZH - Depois de passar por essa situação, o que muda para a sua família?
Moreira - Não sei como vai ser daqui para frente. A minha mulher quer que eu desmonte o quartinho deles antes de ela voltar para casa. É o pior momento das nossas vidas e pode mudar tudo para sempre, não sei se conseguiremos pensar em mais filhos daqui para frente.
Após a despedida
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